9.9.10

APJCC na mídia: reportagem da Revista da Cultura relembra os 50 anos de Psicose

A marca do gênio

O suspense no cinema ainda bate palmas para a obra de Hitchcock depois de 50 anos do lançamento de Psicose

Por Fábio Lima

A jovem loira se despe e vai ao chuveiro. A tranquilidade do banho é interrompida pela sombra de uma mulher atrás da cortina. O barulho da água dá lugar à trilha sonora Bernard Herrmann. A senhora desfere quase dez facadas e se vai. No papel de Marion Crane, Janet Leigh puxa a cortina do boxe, como se esta pudesse ajudá-la. A água leva ao ralo o sangue, que Alfred Hitchcock forjou com chocolate. A cena prossegue lentamente do olho para todo o rosto de uma Marion já sem vida, mas eternizada. Há quem jamais tenha visto Psicose  e conhece a cena parodiada por Pernalonga ou em outro filme. Muitos desconhecem, por exemplo, que a cena é uma reviravolta na trama, levando à investigação do mistério no Bates Motel. Mais que isso, provocou uma reviravolta no cinema [a morte da “mocinha”] – ainda que tenha levado algum tempo. Após 50 anos do filme e 30 da morte do diretor, ele talvez fosse menos lembrado se um intelectual da Nouvelle Vague  não tivesse tirado o rótulo de mero produtor. “Hitchcock hoje é considerado por muitos o maior diretor de todos os tempos, pelo trabalho crítico de resgate que Truffaut [François] arquitetou com a sua monumental entrevista (que virou livro, em espanhol, El cine según Hitchcock). Lógico que, com isso, não digo que Hitchcock é o que é por causa do Truffaut. Ele sempre foi um gênio audiovisual e continuaria sendo até hoje o ‘mestre do suspense’ por sua incrível habilidade de autopromoção. Mas foi o respeito à essência de seu cinema que o grande crítico francês iluminou com a sua sensibilidade e coragem”, lembra o professor Mateus Moura, que preside a Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema – APJCC.

O diretor inglês conseguiu mesmo se promover, além de provocar revoluções no cinema, como no uso do plano-sequência – caso de Festim diabólico, rodado com apenas dez tomadas. Ele criou marcas, como a preferência por atrizes loiras e os vários títulos de filmes com apenas uma palavra: Notorious (Interlúdio), Frenzy (Frenesi), Birds (Os pássaros)... As rápidas aparições em cenas popularizaram sua pessoa e criaram a sensação de “Onde está Wally?”. Até mesmo em Lifeboat (Um barco e nove destinos), gravado inteiramente em um barco à deriva, Hitchcock conseguiu se fazer presente em um anúncio de jornal.

Não é por menos que o diretor arrebatou fãs de todas as faixas etárias. a jornalista Carolina Rocha, 26 anos, acredita que hitchcock é daqueles diretores cujo trabalho não cansa, não esgota. “a vontade de assisti-los não acaba. É o que eu chamo de eterno. hitchcock está vivo. vivo em cada um de nós que vê e revê seus filmes e enxerga mais detalhes, vibra com mais uma minúcia...”, completa. Fã que é fã não se prende a Psicose e até prefere outros filmes ao clássico de 1960. “Todas às vezes que assisto a Marnie – As confissões de uma ladra, fico tensa, ansiosa e cada vez mais apaixonada por Sean Connery. a direção minuciosa de hitchcock fez Tippi hedren brilhar”, descreve a jornalista.

A lista de Mateus Moura é maior, com momentos marcantes e sem ordem de pódio. “a fuga do avião em Intriga internacional, os humanos indefesos engaiolados em cabines telefônicas em Os pássaros, a apresentação de grace kelly em Janela indiscreta, a morte num desabrochar violeta em Topázio, a cena final em Um corpo que cai, que nunca tentarei traduzir em palavras. Alfred Hitchcock é a porta de entrada e de saída dessa arte chamada cinema”, conclui.

Tanto impacto e reverberação não poderiam render outra coisa senão homenagens. hitchcock não cabe na wikipédia e ganhou uma só para ele: a hitchcockwiki.com tem 1,7 milhão de visitas mensais e mil frames de cada filme do diretor. dezoito de seus trabalhos foram relançados em dvd pela universal em comemoração às datas e algumas obras já podem ser encontradas em Blu-ray. Em Belém, a APJCC pretende realizar no "Ano Hitchcock" um evento para discutir em cineclubes toda sua obra.©


Fonte: Revista da Cultura, edição de setembro. Leia aqui.


* * *


Neste sábado, dia 11 de setembro, a APJCC homenageia o mestre com a exibição de "Um Corpo que Cai", no Centro de Articulação Social e Apoio da Juventude (Av. Gentil Bittencourt, 694, ao lado do Centur). A partir das 18h30, com entrada franca!

Nenhum comentário: