31.5.09

APJCC apresenta a primeira discussão séria na cidade sobre o cinema de animação

Cineclube Aliança Francesa apresenta:


Ratatouille. Brad Bird. 2009. Animação. Cor. 111’.




Se a Literatura nasce da escrita que tinha a finalidade de registrar a fala e a Pintura nasce do desenho rupestre que registrava o cotidiano dos homens em rochas, a linguagem da Pixar tem sua raiz em um aparelho que foi criado para armazenar dados na II Guerra Mundial: o computador. Não fosse o artista, o computador continuaria sendo um frio armazenador de dados – fica provado, assim, que é impossível prever de onde virá a arte; e é justamente esse o tema da obra-prima Ratatouille.
Um dos mais belos poemas ao processo artístico, de sua criação até sua apreciação; uma das mais brilhantes reflexões sobre o que diferencia a arte da produção em série, Ratatouille encontra nas mãos do artista Brad Bird a possibilidade de (através da narrativa de um ratinho simpático que tem paixão pela arte da culinária, mas que por ser rato terá problemas em se tornar um chef), tecer diante de nossos olhos emocionados um dos mais cativantes contos sobre o amor à arte e todas as possibilidades e sensações que ela desperta nos seres que se permitem ser suscetíveis a ela. E para concretizar essa narrativa Bird usa de todo o potencial de sua linguagem: planos-sequência inconcebíveis no cinema, um zoom que se aproxima tanto do personagem que enxerga sua lembrança e um retrato dos mais belos já realizados da cidade de Paris – recriada aqui não para ser “fiel” a “original”, mas para ter o efeito narrativo de ser tão poética que é difícil imaginar que a história pudesse se dar em outro lugar com a mesma atmosfera de encanto.
Se quem está lendo esse texto está pensando que Ratatouille é um daqueles “filmes” para criança que é tão bom que diverte até os adultos, me desculpe, mas você não poderia estar mais enganado. Ratatouille é um daquelas animações (feita, sim, para o público infantil) que é tão boa que cativa o público capaz de apreciá-lo em sua essência: os amantes de grandes filmes que também entendem e respeitam as grandes animações.
O grande chef Gusteau estava certo ao dizer ao ratinho Rémy que “todos podem cozinhar” – porque isso não quer dizer que qualquer pessoa é naturalmente artista, mas que a arte pode vir de qualquer lugar; nem que seja do mais insignificante rato.

Felipe Cruz



SERVIÇO:
Local: Aliança Francesa (Tv. Rui Barbosa, 1851, entre Mudurucus e Conselheiro Furtado)
Datas: 03/06/09
Horário: 19:30
Legendas em português
Entrada Franca

16.5.09

Segue Festival Jean Vigo com o maldito "Zero em comportamento"

Cineclube Aliança Francesa apresenta:



Zero em comportamento (Zèro de conduite). Jean Vigo. 1933. p/b. 41'.


Em 1933 um filme surge, sob condições precárias, mutilado, lotado de "defeitos", e, paradoxalmente(?), eterno em sua poesia. Como explicar essa força poética que foi Jean Vigo? Como traduzir o efeito que se processa em nossos corações em
uma câmera lenta que nos transporta para o inefável sentimento da liberdade? Como não se emocionar presenciando a inovação da intuição em estado bruto? Como não amar o cinema depois de "Zero em comportamento"?
Jean Vigo - ex-criança-problema, prole de pai-problema - cresce; e, adulto, na ânsia de vestir os olhos infantis (próprios e paternos) de outrora, não utiliza mais apenas a rebeldia, mas também a sátira, a gag e o cinema.  Na pequena obra-prima de espírito anarquista, Vigo apresenta dois mundos: o da fantasia humanista realista infantil,
e o dos fantoches caricatos burgueses adultos.
Quarenta e um minutos, e quantos momentos inesquecíveis... "Zero em comportamento" é obra-milagre. Jean Vigo, ao saltar nu nas plumas dos travesseiros numa briga de crianças, abarca a infância do mundo, afaga o respeito da ternura,
flutua na atmosfera onírica da realidade. ‘Vá à merda’ Vigo, como você não existiu, nem existirá.

Mateus Moura


SERVIÇO:




Data: 20/05/09 (quarta-feira)
Local: Aliança Francesa (Tv. Rui Barbosa, 1851 (entre Mudurucus e Conselheiro Furtado)

Horário: 19:30
Legendas em português
Entrada Franca


7.5.09

Estréia Cine CCBEU com O Poderoso Chefão

Cine CCBEU apresenta:




Depois de uma longa espera o Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU) retoma suas atividades no circuito cineclubista local. Numa parceria com a Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema (APJCC), o projeto CINE CCBEU é o mais novo espaço de exibição de grandes obras da cinematografia mundial, além de fórum regular de debates sobre arte, cultura e cinema.
Com sessões quinzenais, todas as quintas-feiras, o CINE CCBEU estréia dia 21 de maio às 18:30 com o ciclo "O Poderoso Chefão". A trilogia segue aínda nos dias 06 e 18 de junho. Sempre com entrada franca!

Ciclo "O Poderoso Chefão":

O que torna determinado filme um mito moderno? Como uma obra consegue enraizar-se definitivamente no imaginário a ponto de tantas vezes ser considerada como a franquia mais amada do mundo? O que garante a eternidade de uma imagem? No caso da trilogia O Poderoso Chefão a resposta é relativamente simples: a equação harmônica entre as duas principais dimensões do Cinema Clássico, drama e estilo.
A obra, baseada no best-seller de Mario Puzo, narra as aventuras da família Corleone e a tragédia de seu protagonista, um herói corrompido pelas circunstâncias que tenta a todo custo desvencilhar-se da sufocante malha de sangue e trevas que ele próprio construiu. Para retratar estes personagens o filme conta com um elenco brilhante que amadurece o método dramático do Actor's Studio a ponto de tornar o conjunto das performances uma "obra-prima dentro da obra-prima".
Todo este material dramático, porém, significaria muito pouco se não fosse organizado e dirigido pelo olhar do jovem e maduro Francis Ford Coppola. Num tour-de-force épico, o diretor conseguiu imprimir sua assinatura numa obra rigidamente controlada pela Paramount. Coppola aliou a narrativa clássica americana, a violência gráfica do filme de gênero moderno e o ritmo e a mise-en-scène da ópera barroca. Com a ajuda do diretor de fotografia Gordon Willis, fez um filme em negro e dourado dando à suas imagens a qualidade mórbida de um velho álbum de família. É exatamente no tratamento das imagens que O Poderoso Chefão deixa de ser grande dramaturgia e torna-se grande Cinema.
O Poderoso Chefão, assim como diversas obras da chamada Nova Hollywood, representava a América que a América não queria encarar. No auge da crise do Vietnã, Coppola ao lado de Martin Scorsese, Brian de Palma e outros, abordava um país construído a partir de suas figuras marginais. Hoje, passados 37 anos de seu lançamento, a revisão da trilogia nos permite repensar suas dimensões estética, dramatúrgica e (também) política, afinal como diria Balzac: "Por trás de toda grande fortuna, há um crime".

Miguel Haoni
(APJCC - 2009)

Serviço:
21/05: Parte I



Mario Puzo acredita na América. A América fez a sua fortuna. Não a América de Abrahan Lincoln, do hambúrguer com Coca-Cola e do delírio democrático. Não a América do Sonho, mas a América do Pesadelo. O país de Al Capone e Richad Nixon onde acordos são assinados com sangue, fora do expediente. Um país cego que nunca reconheceu que os verdadeiros pezzonovante eram aqueles que enchiam de sangue os jornais, dos tribunais do Vietnã às trincheiras de Washington; dos becos de Hollywood aos escritórios de Nova York.
Ao filmar "O Poderoso Chefão" em 1972, Coppola cria imagens a partir de questões fundamentais de Puzo: Quem é o bandido e quem é o mocinho na cultura do acúmulo? Qual a diferença entre a Nova Yok da Máfia e o resto do mundo? Quem não se tornaria cruel quando sufocado por uma realidade cruel? Para a família Corleone a questão é bem mais simples: quando se vive na linha de tiro, que diferença faz?
 
Miguel Haoni
(APJCC - 2009)
04/06: Parte II
18/06: Parte III

sessões às 18:30
no Teatro do CCBEU
(Padre Eutíquio, 1309)
ENTRADA FRANCA

Realização:
CCBEU
Parceria:
APJCC 

Festival Jean Vigo - Belém na Aliança Francesa

Cineclube Aliança Francesa apresenta:



Festival Jean Vigo - Belém



Agora com estrutura e infraestrutura, o Cineclube Aliança Francesa recebe em casa seus espectadores. Pra comemorar esta saudável e agradável mudança nada mais legal do que um belo e esperado festival.
Jean Vigo, o “enfant terrible”, poeta cinematográfico eterno, será o tema do festival, que terá como convidado Miguel Haoni, integrante da Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema (APJCC).
Foi numa Mostra Jean Vigo que o então cineclubista André Bazin conheceu o cinéfilo François Truffaut. Anos mais tarde, depois da revolução crítica com a Cahiers du Cinema nos anos 50 e a cinematográfica com a Nouvelle Vague, o já cineasta Truffaut homenageia o falecido guru da crítica quando é proposto um Festival Jean Vigo em Paris.
Este, em Belém, com mostra e discussão completa da filmografia, pretende homenagear os três. Ver Jean Vigo e discutir o que André Bazin e François Truffaut escreveram e pensaram sobre cinema é mergulhar na cultura francesa. Enquanto os turistas visitam a Torre Eiffel, Belém recebe todo o espírito inconformado e trágico, belo e puro, dos gênios franceses.

Mateus Moura.


Programação:


Dia 13/05/09 (quarta-feira, às 19:30)


A propósito de Nice (A pròpos de Nice). 1929. p/b. / Taris. 1931. p/b.




Pode parecer estranho, mas um nome brasileiro é essencial quando se fala de Jean Vigo. Este nome é Paulo Emílio Sales Gomes. Escritor, crítico e historiador de cinema, escreveu obra fundamental para pretendentes vigonianos. O livro - de título “Jean Vigo” - é um trabalho histórico biográfico sobre o cineasta francês. Além de ser um importantíssimo documento, se reflete as influências que Vigo sofreu (mais notadamente a de seu pai: Almereyda), a construção de sua personalidade e de seus filmes, a recepção crítica de sua obra e, o melhor, a análise de seu estilo através de seus filmes, roteiros e anotações.
Nessa biografia crítica, ao passar pelo primeiro filme de Vigo, Paulo Emílio afirma que além de sentimentos e ideologias, “A Propos de Nice” carregava um estilo. E estava certo. Nessa primeira sessão do Festival Jean Vigo serão apresentados dois curtas-metragens: A Propósito de Nice (“um ponto de vista documentado da cidade de Nice”), e Taris, rei da água, um filme encomendado sobre natação e seu astro nadador.
O Festival começa. Quem sabe dessa primeira exibição não saiam sonhadores querendo filmar Belém do seu ponto de vista. A maioria dos cineastas se formaram em cineclubes. A verdade é que um sem o outro é como um corpo sem alma, Nice sem carnaval, ou Taris sem água.

Mateus Moura.



Dia 20/05/09 – Zero em comportamento (Zéro de conduite). 1933. p/b.
Dia 27/05/09 – O Atalante (L’Atalante). 1934. p/b.

SERVIÇO:


Local: Aliança Francesa (Tv. Rui Barbosa, 1851 (entre Mudurucus e Conselheiro Furtado)



Horário: 19:30


Legendas em português


Entrada Franca

2.5.09

Ciclo Robert Bresson

Cineclube Aliança Francesa apresenta:




Cycle Robert Bresson
Dez dos catorze filmes realizados pelo mestre francês farão parte do Ciclo. Todos legendados em português, com exceção de "Um condenado à morte escapou", em espanhol. Além da exibição, o público receberá textos sobre a estética bressoniana. Segue a programação:


04/05 (segunda-feira)


(09:00)



As damas do Bois de Bolougne (Les dames du Bois de Bologne). 1945. p/b. 84’.



(15:00)


Diário de um pároco de aldeia (Jornal d’un cure de campagne). 1951. p/b. 110’.





05/05 (terça-feira)


(09:00)


Um condenado à morte escapou (Un condamné à mort s’est échapée). 1956. p/b. 99’.





*legendas em espanhol


(15:00)


Pickpocket. 1959. p/b. 75’.






06/05 (quarta-feira)


(09:00)


O processo de Joana D’arc (Procès de Jeanne D’arc). 1962. p/b. 65’.





A grande testemunha (Au hasard Balthazar. 1966. p/b. 95’.



07/05 (quinta-feira)


 


(09:00)


A virgem possuída (Mouchette). 1967. p/b. 78’.





(15:00)


Lancelot do lago (Lancelot du Lac).1974. cor. 85’.





08/05 (sexta-feira)


(09:00)


O diabo provavelmente (Le diable probablement). 1977. cor. 95’.



(15:00)


O dinheiro (L’argent). 1983. cor. 85’.


1.5.09

Por ocasião do cancelamento do Ciclo de Palestras Robert Bresson

Devido a um grave problema de saúde na família, gostaria de utilizar esse espaço para me desculpar pela impossibilidade de, no momento, honrar o compromisso de estar em Belém para a realização de um ciclo de palestras sobre Robert Bresson, previsto para o período de 4 a 8 de maio, no IAP. Ressalto que tal convite muito me honra, assim como as manifestações de apreço e respeito que recebi  nos últimos dias em razão do evento, pelo qual agradeço às pessoas e  instituições envolvidas (Cineclube da Aliança Francesa na pessoa de Mateus Moura, IAP, Associação de Jovens Críticos Cinematográficos do Pará e Secult).


Por outro lado e também por respeito a essas mesmas instituições e pessoas que me ofereceram tamanha oportunidade, não posso me eximir de repudiar a reação intempestiva e isolada da coordenação cultural da Aliança Francesa de Belém (na pessoa de Kelly Kallynka Cruz), quando da minha comunicação do imprevisto, a mais de 72 horas do evento. Sob a justificativa de que a passagem aérea de ida já havia sido emitida e de que um contrato havia sido assinado, foi imediatamente descartada a alternativa de um adiamento do ciclo de palestras e, pior, até sugerida que minha morte seria uma melhor solução para o não cumprimento do prazo estipulado.


Mais grave que a grosseria e total ausência de sensibilidade e preparo, a reação em questão revela muito da maneira “ a qualquer custo” que muitas pessoas encaram a realização de eventos culturais no Brasil. E só por isso venho a público escrever a respeito.


Convém esclarecer que me foi sugerido ainda se não havia outra pessoa para eu mandar no meu lugar, a fim de garantir o ciclo. Desrespeito não só a mim, como ao público e, principalmente, às instituições que me convidaram.


Espero que a direção da Aliança Francesa, entidade da qual fui bolsista por mais de três anos e a qual sou muito grato também pelo apoio às minhas atividades cineclubísticas, saiba apurar os fatos com o devido cuidado e serenidade, ainda mais em um momento de tantas e prestigiosas promoções culturais por ocasião do Ano da França no Brasil.


A todos, minhas sinceras desculpas pelo inconveniente.


Adolfo Gomes