31.8.10

Nós temos um encontro com o pó de pirlimpimpim, nossos milhares de pés não podem tropeçar

Nem o mais genial dos artistas é capaz de penetrar olhos que voluntariamente se fecham para o mundo da Fantasia. Há, nesta postura anti-lúdica, uma resistência que não se justifica por nenhuma espécie de crença estética ou valor artístico pessoal. Trata-se da mais assombrosa e perigosa Ignorância.
 
Sejamos específicos e deixemos claro desde o início que acontecimento motiva esse texto: a insatisfação com a obra escolhida para ser exibida na programação reservada ao cinema no festival Quebramar, realizado em julho deste ano em Macapá. Tratava-se, no caso, de Ratatouille, de Brad Bird (realizado dentro da gigante da animação Pixar e distribuído pelos estúdios Walt Disney).



A escolha desta animação, feita para motivar um debate acerca do artista e de seu processo de criação, foi considerada desrespeitosa e prejudicial ao festival em questão (festival que pretende um diálogo entre os mais diferentes gêneros artísticos, afirmando um respeito pelas diferenças existentes entre os mais diferentes estilos). É importante deixar claro que Ratatouille é, na opinião de diversos membros da APJCC, a animação da década. Obra-prima brilhante, ode feita por um artista ao seu meio de vida, à sua paixão, à sua motivação última: a arte. Porém, antes de dar continuidade à homenagem escrita que esta animação merece, é necessário nos determos na situação em questão.
 
Uma coisa é ouvir em uma fila de cinema pessoas desrespeitando grandes obras da linguagem áudio-visual (fiquemos no exemplo das animações, especialmente as mais comumente vilipendiadas como sendo “infantis”, “ingênuas” e “mercadológicas”, ou seja, as feitas nos ou em parceria com os estúdios Walt Disney). Outra coisa é ouvir da boca de realizadores que trabalham a favor da disseminação e do debate da arte reclamações indignadas a respeito de uma determinada obra motivadas não por seus méritos estéticos, mas única e exclusivamente por sua origem.

 
Se, durante a história da humanidade, sempre houve a luta árdua para convencer o público em geral que o Jazz não era um gênero musical inferior por ter berço negro, que Beatles não era uma banalidade por ser consumido em profusão pelas “massas” ou que a música do Velvet Underground não é menos arte por ser feita por jovens viciados em heroína, hoje (no ano de 2010) é preciso vir a público com este texto para lembrar que a nacionalidade, a linguagem, o gênero e o estúdio responsável pela produção de uma obra não podem ser os elementos exclusivos e totalitários de julgamento de qualquer expressão artística. E ter que lembrar isso a pessoas que estão diretamente envolvidas com a criação, reflexão e disseminação da arte é a circunstância mais assustadora de todas.

 
É indispensável esclarecer, ainda, que todo esse debate poderia ter sido realizado após a exibição de Ratatouille durante o festival Quebramar. No entanto, não só a sessão começou com mais de 2 horas de atraso (por problemas da organização do evento) como o público se retirou durante a sessão sem dar oportunidade para que o diálogo ocorresse. Fecharam os olhos e os ouvidos, levaram sua indignação para os botecos e rodas de amigos.

 
Então, que se faça aqui um pouco ao menos do que teria sido exposto na referente ocasião se tivesse havido oportunidade: quando o grande chef Gusteau diz ao ratinho Rémy que “qualquer um pode cozinhar”, ele não está dizendo que toda e qualquer pessoa pode vir a se tornar um artista (afinal, a culinária em Ratatouille é tratada como Arte), mas sim que a Arte pode surgir de todo e qualquer lugar. A democracia do lirismo, a possibilidade de nos depararmos com artistas de origens as mais diversas é o cerne dessa obra. E se projetarmos essa discussão para a própria existência dos estúdios Pixar teremos uma visão ainda mais abrangente daquilo que Gusteau ensina ao seu pupilo: afinal, quem diria que de uma máquina pesada e fria, construída apenas para o armazenamento de dados, que é o computador, poderia brotar a mais pura e bela fantasia, o mais sincero lirismo? Pois, assim como o Radiohead, a Pixar faz sua poesia (e basta ver com os olhos sem preconceito animações como UP, Toy Story 3 e Monstros S.A. para nos darmos conta que estamos diante de Poesia) através de uma invenção criada para servir à propósitos estratégicos na II Guerra Mundial.

 
Quem somos nós para limitar às fontes legítimas pelas quais uma arte pode se expressar? Quem somos nós para determinarmos que não é possível que a arte surja a partir da TV, do computador, da palavra, do baixo estourado do Joy Division, dos vocais berrados de Kurt Cobain, do eletrônico lisérgico do Pink Floyd?

 
Mais uma vez, Ratatouille responde belamente esses questionamentos: àqueles que pretendem tolher o espírito poético, àqueles que sentem necessidade de afirmar a qualidade da arte a partir de sua origem só resta reconhecer a pequenez do horizonte de seu espírito diante da manifestação do verdadeiro talento, como faz o crítico Ego ao final da obra de Brad Bird -  na esperança de que, através desse reconhecimento (também como o personagem de Ego), as visões se ampliem, a mente se abra e a arte penetre nesses olhos trancados diante de sua presença.

 
A recusa do debate é a morte do aprendizado. Sem qualquer espécie de ressentimento pessoal o que mais incomoda é ter a certeza que uma obra do porte de Ratatouille merecia um tratamento à altura de sua relevância artística. Talvez em um mundo ideal, onde deixem de existir preconceitos quanto à música produzida por negros e viciados em heroína, bandas consumidas pelas “massas”, baixos estourados, vocais berrados e efeitos eletrônicos lisérgicos, possamos esperar que não haja tão violenta postura diante de uma animação que nem sequer foi assistida, mas pura e simplesmente rotulada a partir do estúdio que a realizou.

 
O preconceito emburrece e a arte liberta. Infelizmente, assim como a arte, o preconceito pode ser eterno. Cabe a todos aqueles que se PROPÕEM a realizada um DEBATE sério sobre a expressão artística garantir que o preconceito seja o mais rápida e impiedosamente exterminado. Eu me disponho a lutar essa batalha – mais alguém?

 
Felipe Cruz (APJCC) – responsável pela exibição de Ratatouille no festival Quebramar.

28.8.10

Horror francês no Coisas de Cinema

Coisas de Cinema apresenta:

Os Olhos Sem Rosto, de Georges Franju

Sinopse:

O professor Génessier, um célebre cirurgião conhecido por seus trabalhos sobre heteroplastia, tem uma filha, Christiane, cujo rosto foi horrivelmente desfigurado num acidente, restando apenas os olhos intactos. Tentando restituir-lhe a beleza de antes, ele, com a ajuda de uma enfermeira, sequestra e mutila belas moças para fazer as cirurgias experimentais de enxerto de pele. 


Notas:

A França é um espaço na sétima-arte que não tem em seu currículo muitas obras do gênero de horror. O país que deu ao mundo os Irmãos Lumière e o cinema guarda uma das mais belas e selvagens manifestações artísticas: “Os Olhos sem Rosto”. A obra põe na tela uma obscuridade que remete aos filmes expressionistas alemães, carrega a inquietação do cinema surrealista de autores como Jean Cocteau e Luis Bunuel. O diretor Georges Franju  imprime poética e sensibilidade em um filme onde o medo é apenas um ponto figurativo e o que emerge do quadro fílmico é o que interessa; que o desespero também pode se tornar belo.

Aerton Martins (APJCC - 2010)

* * *

Serviço:

Coisas de Cinema apresenta “Os Olhos sem Rosto”, de Georges Franju.
Data: 1º de setembro (quarta-feira) 
Horário: 19h15
Local: Espaço Cultural Coisas de Negro – Av. Lopo de Castro (antiga Cristovão Colombo), 1081/ Icoaraci
ENTRADA FRANCA

Realização: Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema (APJCC) e Espaço Cultural Coisas de Negro

25.8.10

Fullerianas Parte 6 *

[Pickup on South Street. 1953. Samuel Fuller]


Por Mateus Moura (APJCC - 2010)

O cinema enquanto recurso pedagógico... vamos lá. 

A melhor ilustração do espírito fulleriano didaticamente se encontra esmiuçado pela eterna Moe, no noir Pickup on South Street. Na magnífica aparição dessa personagem, a testemunha ocular da batida de carteira no metrô, em sua tentativa de começar uma descrição do delinquente com a convencional descrição fisica anatômica, é logo interrompido em grande estilo pela delatora. 

"-Altura mediana? Que me importa se é alto, baixo, gordo, magro, existem milhões por aí... Descreve como ele fez, eles são conhecidos pela técnica, cada um tem a sua...". Numa encenação de gestos e dialeto fora de série, Moe fala do herói do filme, mas poderia muito bem estar falando do herói que dirigiu este filme. Nesse complicado submundo que se chama Hollywood, Fuller é o maior e mais visceral contrabandista. Nesta seara dos "pickpockets" do cinema, cada qual tem um estilo. E no fim é isso o que realmente conta, isso é que diferencia chicos de franciscos: 

O modus operandi. 

E já que a repetição é a pedagogia do sábio, e o negrito o travelling frontal: 

O modus operandi.

*publicado originalmente em Cinemateus.

23.8.10

INOVACINE traz Machado de Assis pela câmera de Julio Bressane

Inovacine/ IPHAN apresenta:

"Brás Cubas", de Julio Bressane


Machado de Assis foi, e ainda é, o maior romancista do Brasil. Suas obras punham a nu o mito do "bom brasileiro" ao retratarem a cretinice, o egoísmo e a covardia do povo. "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é seu testamento poético. Ao recapitular a vida e morte de um legítimo e vazio burguês perdido na côrte, Machado analisa com humor e coragem o espírito humano em seus aspectos mais pífios e embaraçosos.
 
Julio Bressane é o fauno do cinema underground brasileiro. Erotismo e ironia são os ingredientes principais na sua experimentação cinepoética. "Matou a Família e Foi ao Cinema", um dos maiores filmes da história do cinema brasileiro, é uma cuspida audiovisual no olho da mediocridade. Seu rigor cênico e seu despojamento são a prova cabal de que é possível realizar obras-primas sem dinheiro nenhum. Uma verdadeira lição aos pseudo-cineastas pobres, ricos e de classe-média.

 
O encontro do grande mestre com o pequeno gênio resultou em um filme bestial. "Brás Cubas" é um orgasmo de experimentação, ousadia e lirismo. Machado de Assis sadomasoquista encontra a sacanagem demolidora do grupo teatral "Asdrúbal Trouxe o Trombone" e do epidérmico Luís Fernando Guimarães. O filme em si revela o olhar de Bressane sobre o Rio de Janeiro ao retratar em Brás Cubas o primeiro garotão da Zona Sul, e o Paço Imperial como palco da pornochanchada realista.

 
"Brás Cubas" é a releitura cinestética de (quase) todos os capítulos do livro. Um filme gigantesco de baixíssimo orçamento que escorre arte dentro do acuado cinema brasileiro dos anos 80.

Miguel Haoni
(APJCC - 2010)


Serviço: 

“Brás Cubas”, de Julio Bressane
Data: 25 de agosto (quarta-feira) às 18h30
Lcal: Auditório do IPHAN - Tv Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher. 
Realização: INOVACINE
Apoio: IPHAN
Informações: (91) 8813-1891

17.8.10

Pequena Mostra do Essencial Desconhecido traz obras raras do cinema

Sabemos que um dos papéis que o cineclubista deve assumir perante a sociedade é o de trazer à luz obras raras. Se nem os circuitos comercial e alternativo, nem as locadoras disponibilizam certo material que é essencial ao público que deseja conhecer realmente o cinema, é responsabilidade do cineclubista iluminar tais trevas.

Esta Pequena Mostra do Essencial Desconhecido começa com o clássico noir “Anjo do Mal”, do 'contrabandista' Samuel Fuller; segue com o vanguardista “Limite”, do brasileiro Mário Peixoto; continua com o onírico “Lisa e o Diabo" do maestro italiano Mario Bava; vai ao oriente com o mestre contemporâneo Hou Hsiao-Hsien e sua homenagem a Yasujiro Ozu com “Café Lumiére”; e finaliza, como sempre, com uma sessão paraense de curtas, o documentário de denúncia “Dezinho”, de Evandro Medeiros e a ficção fantástica “Matinta Perera”, de Jorge Vidal. 

* * *

A mostra acontece no âmbito da Oficina de Formação Cineclubista que o projeto INOVACINE ministra em Belém, de 23 a 27 de agosto, das 9h às 12h (saiba como se inscrever aqui). Apesar de complementar as aulas, as sessões são abertas ao público em geral, sem necessidade de estar inscrito na oficina. Elas acontecem de 14h às 17h, no Cine Líbero Luxardo, do Centur (Av. Gentil Bittencourt, 650). A entrada é franca. 

PROGRAMAÇÃO

23 de agosto: Anjo do Mal, de Samuel Fuller

24 de agosto: Limite, de Mário Peixoto
        
25 de agosto: Lisa e o Diabo, de Mario Bava

26 de agosto: Café Lumière, de
Hou Hsiao-Hsien

27 de agosto: Curtas paraenses -
"Dezinho", de Evandro Medeiros e
"Matinta Perera", de Jorge Vidal

Agenda do INOVACINE privilegia cinema marginal


O INOVACINE anuncia que a Oficina de Formação Cineclubista acontecerá, em seu maior formato, para todos os interessados residentes da região metropolitana de Belém. Serão ofertadas 80 vagas, número correspondente à lotação do Cine-Teatro Líbero Luxardo. De 23 a 27 de agosto, das 9h às 12h, os inscritos participarão da programação, que tem como conteúdo a instrumentalização prática de se tocar um cineclube (da pré à pós produção) e o aprofundamento na teoria cinematográfica através de sua História.

À tarde, das 14h às 18h, a programação continua com exibição de filmes. As sessões complementam as aulas da manhã, mas são também abertas ao público que não participa da Oficina. Na curadoria das obras, foi escolhido o viés da maldição (confira a programação aqui).   

* * *

O INOVACINE, projeto fruto da parceria entre a FAPESPA e a APJCC, tem como norte, neste segundo semestre, manter regularidade de, pelo menos, uma ação a cada 15 dias em Belém e uma viagem todo mês a outras cidades do Estado.

Antes do evento no Centur, nos dias 20, 21 e 22 de agosto o INOVACINE ministra, em formato mais reduzido, a mesma Oficina na UEPa de Igarapé-Açú. Na programação, o gênero do fantástico será privilegiado. Além da sessão paraense, que exibirá o premiado “Chama Verequete”, de Luiz Arnaldo e Rogério Parreira, serão exibidos a ficção científica “2001: Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, e o terror “O despertar da besta”, de José Mojica Marins. 

* * * 

As inscrições para a programação em Belém podem ser feitas por e-mail (comunica@fapespa.pa.gov.br) com o assunto INSCRIÇÃO. No conteúdo, devem constar apenas o nome completo e o contato telefônico do interessado. Qualquer dúvida ligar para (91) 8114-8146 e falar com Francisco Weyl, assessor de comunicação da Fapespa e coordenador do INOVACINE.


A inscrição é gratuita, a conversa é franca.

* * *  
 
Serviço: 
 
Belém
Cine Líbero Luxardo, na Fundação Tancredo Neves (Centur) - Av. Gentil Bittencourt,650, Térreo
Dias: 23 a 27 de agosto
Horário: 9h às 12h/ 14h às 17h.
 
Igarapé-Açu: 
Campus da UEPa
Dias: 20 a 22 de agosto
Horário: 9h às 12h/ 18h às 21h. 

Todas as programações têm entrada franca
Realização: INOVACINE / Parceria: FAPESPA/APJCC

15.8.10

APJCC exibe "O Hospedeiro" em homenagem aos pais

Coisas de Cinema apresenta:

O Hospedeiro, de Bong Joon-Ho - Homenagem aos pais



O cinema sul-coreano despeja vitalidade e beleza em suas últimas obras. Uma nova geração de cineastas preocupa-se em exorcizar a esterilidade cinematográfica que acomete alguns países. O diretor Bong Joon-ho é um dos bravos da Coréia e com o belíssimo "Memorias de Um Assassino", mostrou ao mundo sua habilidade com a câmera. Em "O Hospedeiro" temos um belo filme de gênero que, se porventura, carrega algum viés político, este é apenas retido e sentido na periferia da trama, com o dispositivo da mise-en-scene que o diretor habilidosamente se encarrega de cravar em cada fotograma da obra. Algumas convenções são destruídas em segundos; o protagonista/herói do filme nos é apresentado dormindo, babando - é mais cuidado pela filha do que cuida. A obra vai girar sua roleta na família do herói, uma família torta, que procura ir atrás da menina que foi sequestrada pelo monstro. "O Hospedeiro" é um dos filmes da década e exala vigor cinematográfico, obra que a APJCC escolheu para homenagear os pais e será exibida no Coisas de Cinema.

Aerton Martins (APJCC - 2010) 


"O Hospedeiro" é um filme complexo, que se expressa em várias camadas. Num plano superficial a aventura da família Park no resgate da pequena Hyun-seo é narrada utilizando as melhores técnicas possíveis para o nosso tempo: direção precisa, trilha envolvente, grandes atuações, efeitos impecáveis...é o filme que definitivamente coloca o cinema oriental contemporâneo como herdeiro direto e legítimo da Hollywood de ouro dos anos 40 e 50.
Num plano intermediário, é a obra que melhor expressa a sensibilidade e o talento do jovem Bong Joon-Ho. O domínio da mise-en-scéne e da construção das atmosferas de horror e humor são o passo definitivo na afirmaçãom estética dos filmes de gênero de grande orçamento - coisa que passa longe dos trabalhos de Camerons, Jacksons e blockbusters do outro lado do Pacífico.
Num plano profundo (e é isto que nos interessa), "O Hospedeiro" é a alegoria mitológica da paternidade. Neste ponto o filme transcende a própria narrativa e mergulha na experiência do amadurecimento através de traumáticos ritos de passagem.
Obviamente Bong mistura tudo isto e muito mais numa obra cinematográfica completa que representa como nenhuma outra, a grandiosidade do homem e do cinema sul-coreano. E é esta obra-prima que o cineclube Coisas de Cinema oferece em homenagem aos pais - sujeitos cuja tenacidade e amor os elevam à categoria de heróis.

Miguel Haoni (APJCC - 2010) 


Serviço:

Data: 18 de agosto (quarta-feira) às 19h30
Local: Espaço Cultural Coisas de Negro – Av. Lopo de Castro (antiga Cristovão Colombo), 1081/ Icoaraci
Realização: Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema (APJCC) e Espaço Cultural Coisas de Negro
ENTRADA FRANCA

10.8.10

Cine CCBEU apresenta "Agora e Sempre", de Lesli Linka Glatter - Filme da Plateia

 
Vinte e cinco anos se passaram e quatro amigas se reencontram na pequena e nostálgica cidade em que passaram férias de verão juntas, na década de 70. Apesar dos caminhos diferentes, ainda há algo que as une. Filme dos anos 90 e tradicional à “sessão da tarde”, “Agora e Sempre” é um marco pessoal na vida de muitas garotas. Retratando temas familiares, dramas infantis e, por vezes, o contra ponto com o universo masculino, este filme carrega consigo uma importância memorialística para aqueles que sabem dar valor à amizade.

Mariana Hass (frequentadora do Cine CCBEU)

Serviço:
 
19 de agosto (quinta-feira) às 18h30
no Cineteatro do CCBEU - Tv. Padre Eutíquio, 1309
ENTRADA FRANCA

Realização: APJCC e CCBEU
Apoio: Cineclube Amazonas Douro

Mais informações:

Comunidade e Perfil do Cine CCBEU
E-mail: cineccbeu@gmail.com
Twitter da APJCC

Contato: (91) 88131891

APJCC realiza sessão em homenagem a Harvey Pekar

APJCC e Biblioteca Pública Arthur Vianna orgulhosamente apresentam "Anti-Herói Americano", de Shari Springer Berman e Robert Pulccini - Homenagem a Harvey Pekar
 
Queria escrever alguma coisa legal sobre o Pekar mas já estou há 2 semanas na frente da folha em branco e nada sai. Simplesmente não sai! Tudo o que eu consigo pensar é na reafirmação dos clichês: "O gênio do quadrinho underground, jogou luz sobre a miséria das pequenas cidades americanas que minguam à sombra das mega-corporações, e extraiu a poesia dos homens e mulheres que enfretam a solidão nos trabalhos medíocres e nas medíocres filas de supermercado...blá, blá, blá". Tudo isto já foi dito e repetido um milhão de vezes mas é só até onde a minha preguiça me permite chegar. Enquanto isso, a Dona  Ruth do CENTUR espera; e os caras da APJCC esperam e a maioria das pessoas não fazem a mínima idéia de que vamos exibir a cinebiografia de Harvey Pekar ou mesmo quem é esse Harvey Pekar!


 
Nada faz muito sentido. Mas o que faz sentido nesta terra... Meu Deus, Harvey Pekar morreu! Esse cara foi um grande parceiro no fim da minha adolescência (há 6 meses atrás!) quando eu comecei a perceber que a vida na minha cidade não teria grandes aventuras, explosões ou super-heróis. Quando eu ouvi de um velho Alex Pinheiro que a solidão era o estado natural do homem...
Harvey dizia que às vezes se sentia tão sozinho que, na cama, tinha a impressão de que um corpo estava ao seu lado, como um amputado sente a presença do membro perdido. Harvey Pekar se foi, mas sua presença vai nos acompanhar por um bom tempo, pelo menos enquanto a vida for diferente da propaganda.



 
Sexta-feira, vamos exibir "Anti-Herói Americano" na Gibiteca do CENTUR. Tomara que esteja escuro o suficiente. Mas o trabalho precisa seguir e outras segundas-feiras nos esperam.

Miguel Haoni (APJCC - 2010)
 

Serviço:
 
dia 13/08 (sexta) às 16h00
na Gibiteca do CENTUR (Biblioteca Pública Arthur Vianna) - Av.Gentil Bittencourt, N°650
ENTRADA FRANCA

Realização: APJCC e Biblioteca Pública Arthur Vianna
Apoio: Cineclube Amazonas Douro e CCBEU

Inovacine/ Iphan apresenta "Cabanos", de Sebastião Pereira


Primeiro longa metragem de ficção realizado no Pará desde Líbero Luxardo, o filme “Cabanos” estará no cineclube INOVACINE nesta quarta-feira, 11. Baseado na revolução Cabana, o filme resulta do Projeto Cinescola. O realizador (e professor de História) Sebastião Pereira estará presente na sessão. Ele vai dialogar com o público sobre esta produção que tem no elenco e na técnica cerca de 70 alunos da Escola Estadual de Ensino  Médio e Fundamental Temístocles Araújo, Marambaia, Belém do Pará.

A partir de uma família de ribeirinhos, “Cabanos” revela de forma poética a única experiência revolucionária na qual o povo tomou o poder no país, a cabanagem, ocorrida na província do Grão-Pará, em 1835. Com cenas rodas na ilha de Mosqueiro, Abaetetuba, Cametá, e Belém, o filme pode Ser enquadrado na corrente estética do cinema pobre, que tem origem em Cuba (Humberto Solas) e se ramifica em países como EUA, México, Cabo Verde, Brasil, assumindo em cada um destes locais, características particulares fundadas nos mesmos princípios, quais sejam os de - sem economia da original inteligência artística, realizar filmes (de baixo orçamento) com temáticas sociais. 

Quando um cineasta se dispõe a revisar um fato histórico numa perspectiva artística, ele tem consciência do óbvio, ou seja: realidade e ficção são duas substâncias heterogêneas que podem ser por ele misturadas na alquimia das imagens fotográficas, as quais, justapostas, dão-nos a ilusão do movimento. E foi isso que Sebastião Pereira fez sem a menor pretensão de ser um realizador (profissional) de cinema. Ele mostrou como é possível fazer um bom filme; sem dinheiro; sem economia (de esforços); com jovens (cerca de 70 alunos) - sem (nenhuma) experiência artística; e sem nenhum apoio institucional e empresarial.

O grande poeta-realizador soviético Andrei Tarkovsky dizia que o cinema é uma arte triste porque depende do dinheiro para sobreviver, entretanto, Sebastião Pereira conseguiu provar o contrário na Amazônia-Paraoara: o cinema transcende aos interesses econômicos e afirma uma consciência, histórica. Seus atores-jovens desempenham personagens (mais) maduros – e (no filme) adultos (ribeirinhos) dialogam com as crianças, com uma responsabilidade didática absoluta. A produção, que se esmerou em constituir figurinos de época, expõe a nu tanto a pobreza dos ribeirinhos quanto a própria pobreza ainda não assumida pelo cinema amazônida.

E a câmera (a câmera!), operada pelo nosso professor-realizador tem o compasso da batida do seu coração, com panorâmicas, travellings, e planos-sequências que delimitam a lógica linear da montagem, também entrecortada por uma narração que nos explica porque a cabanagem sucumbiu no interior do seu processo revolucionário, talvez – ouvi dizer - sem um projeto político definido.

A câmera de Sebastião Pereira é orgânica, traduz a pureza do homem ribeirinho, ou seja, o olhar de maresia à natureza a sua volta e também aos amigos (com os quais dialoga). É possível perceber que este olhar (subjetivo) tanto pode se fixar em um ponto quanto pode também titubear, retornar ao ponto inicial e de seguida procurar um outro ponto – e (de forma lancinante) intensificar e favorecer algumas ações (em espaços diversos) além do horizonte, mas não em uma paisagem em si, ao contrário, em “passagens” - de uma condição, subumana, para outra, nobre.

O professor-realizador-diretor-de-fotografia-produtor-operador-de-câmera Sebastião Pereira é intenso no que faz. Os diálogos, quase todos em som direto, os ruídos,  intermitentes, os diálogos das personagens, tradutores das nossas velhas angústias revolucionárias. Os sons da mata, as canções, os poemas, elementos sinestésicos, combinados, plano a plano, quadro a quadro, impactam o inconsciente de forma a virar-lhe pelo avesso.

SERVIÇO – “Cabanos”, de Sebastião Pereira, quarta-feira, dia 11 de agosto, 18:30H, no auditório do IPHAN, Travessa Rui Barbosa, esquina da Avenida Governador José Malcher. Realização: INOVACINE. Apoio: IPHAN.

8.8.10

Testemunho sobre a Mostra Novo Cinema Paraense*

Por Mateus Moura

Não existe “cinema paraense”, mas cineastas que residem no Pará, e fazem cinema.

“Chega de igreja!”, bradou Priscila Brasil. Marcelo Marat concordou.
Vivenciei nesses últimos 3 dias o que denominei de “a maior fagulha de clareza coletiva de cineclubismo desse ano”. Da polêmica que antecedeu o evento sobrou apenas a batalha saudável de idéias. Foi quem queria realmente contribuir para a discussão. Natural e harmoniosamente, conclusões coletivas restaram lado a lado às discordâncias individuais. O que prevaleceu não foi nem a discussão sobre o “novo”, nem sobre o “paraense”, mas sobre o CINEMA.

“Não existe o cinema paraense”, disparou Nilson Bala. E nessa hora senti uma pontada na nuca, me lamentando termos perdido nome tão interessante para a Mostra. Entretanto, o nosso título não perdeu a realeza de seu significado profundo: o “Novo Cinema Paraense” seria sobre os últimos filmes aqui produzidos, mas, sobretudo, sobre uma nova consciência acerca desse tal cinema, construída através da discussão. Enquanto o filme trabalha o inconsciente coletivo, o cineclube trabalha com o consciente coletivo. É o apagar e o acender das luzes. O “Novo Cinema Paraense”, logo, não se configura numa tentativa de rotulação, mas de provocação.

“Espaço democrático horizontal expressivo intelectual”, nunca esses pleonasmos todos fizeram tanto sentido. Todos estavam à vontade: espectador, cineasta, crítico, produtor, ator, cineclubista, claquetista, filme. Ao invés da busca de uma identidade regional forçada e demagógica, tudo foi espontaneamente analisado através da sede de conhecer profundamente os objetos. Concluímos que é inegável a excelência cine-criativa de Marcelo Marat, Priscila Brasil, Márcio Barradas... A crítica – decidiu-se – deve ser sempre construtiva. O artista – vislumbrou-se – sempre livre.

O artista é o que não tem medo de errar. Se errar é humano e perdoar é divino, que Deus nos perdoe por sermos errantes. “Viver é perigoso, e é preciso ter coragem”, disse Rosa. Encarar a frio e sem desassossegos grandes as coisas todas que balbuciamos sobre é a grande sabedoria dos diálogos à luz da razão. Não é nada demais a arte, a crítica, a contemplação estética, a denúncia social; não é nada mais do que só tudo isso. O que aprendo no contato com o outro é essa troca, esse quinhão de conhecimento solidário.
Logicamente, esse não é um texto definitivo sobre o que aconteceu nos dias 4, 5 e 6 de agosto de 2010 no auditório do IPHAN. Menos ainda o texto oficial da avaliação do INOVACINE sobre a Mostra.

Não é nada mais que um testemunho pessoal.

*publicado originalmente em Cinemateus

4.8.10

Toy Story 3: leia os textos da APJCC sobre a animação do ano

That's the way to say goodbye*

Por Felipe Cruz


AO INFINITO

A infância deve ser uma das coisas mais idealizadas pelas pessoas em geral e mais reverenciadas pelas artes em particular. Tão idealizada que de vez em quando me pego pensando se esse momento da nossa existência merece tantas reverências, tantas glórias, e a verdade, para mim incontornável, é que quando me encontro encarando uma obra, como esta última animação da Pixar, sinto nos meus ossos que um dos motivos de a arte ter sempre existido na humanidade é a tentativa de resgatar mundos e sensações que todos perdemos pelo caminho. Apontando possibilidades, colocando questões, constatando sentimentos, a arte segue numa reconstrução que é criação e que tem vida própria, mas que sempre ressoa no nosso coração (porque toda grande obra de arte é um coração em forma de linguagem).

E se a infância sempre parece, depois que crescemos, como sendo um mundo à parte de qualquer realidade concreta e lógica, penso que a animação (linguagem que precisa criar, nas questões mais práticas, novos mundos para existir) é a linguagem que mais sinceramente se aproxima e se assemelha à falta de limites características da mente infantil. Não é que o cinema ou a literatura sejam sempre fracassados em representar essa época, mas há algo de sobrenatural no pacto que inconscientemente fazemos quando começamos a assistir uma animação e que naturalmente nos leva para um outro nível de compreensão, para uma nova freqüência de entendimento e de sensibilidade.

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E ALÉM!

Quando eu tinha 6, talvez 7 anos, minha mãe me deu um cavalo de brinquedo. Na época eu não sabia (quem sabe daí é que vinha a força dessa relação), mas o motivo de eu amar tanto aquele cavalo era que sempre que eu brincava com ele eu era levado para outros tantos lugares, que ficavam todos dentro de mim mesmo. Em tantas viagens, tantas aventuras, eu não percebi que estava crescendo e que estava, aos poucos, deixando de viajar, deixando de transportar “os sins desses horizontes” da minha vida.

Eu daria tudo que tenho e um pouco mais para ver, uma última vez, as imagens que minha imaginação de criança (meu espírito ainda livre) criava nessas brincadeiras todas: e a minha eterna gratidão aos gênios da Pixar está em poder reencontrá-las em uma sala de cinema, pelo preço de um ingresso. A obra-prima Toy Story 3 começa com a única imersão que é permitida ao público, durante toda a trilogia, na imaginação de Andy, o garoto a quem fomos apresentados 15 anos atrás, quando esse estúdio começou seu caminho que tantos presentes nos deu nos últimos anos. E, eu sei, representar a imaginação de um criança não é fácil, e a perfeição desta representação (que passa da categoria de símbolo para a da coisa em si) é apenas um dos pontos que fazem desta animação a grande obra de arte que é.

Como Rastros de Ódio, Toy Story é um épico – esta será sempre sua proporção – e como os grandes épicos esta obra irá se debruçar sobre grandes temas: lealdade, saudade, finitude, amizade. E se as duas primeiras animações construíram (fantasticamente) o mundo compartilhado por crianças e brinquedos, evidenciando a grandeza dessa relação, esta terceira sequência trata com inevitável afeto do fim deste universo.

Andy está indo para a faculdade, seus brinquedos acumulam poeira e estão eternamente condenados ao amor incondicional por seu dono; nas palavras do já lendário John Lasseter, na visão de um brinquedo “quando você está quebrado, pode ser consertado; quando você está perdido, pode ser encontrado; quando você é roubado, pode ser recuperado. Mas não há como contornar o momento em que uma criança cresce”. Woody e Buzz Lightyear sabem disso e em sua jornada que vai da aceitação até a melancolia causada pelo aparente abandono somos testemunhas da mais pura e libertária inventividade imagético-narrativa. E por mais coletivo que este trabalho seja não vejo como não direcionar grande parte de minha emoção ao diretor Lee Unkrich, um inacreditável estreante, que sabe da dimensão do material com o qual trabalhou. São sequências como a barbárie das crianças da creche Sunnyside ao encontrar os brinquedos novos, o flashback que explica as origens de Lotso (o urso de pelúcia ditador), os vídeos caseiros que nos mostram o crescimento de Andy (e de todos nós), a união dos protagonistas no momento de sua eminente destruição, que confirmam, consagram e definem os artistas da Pixar como alguns dos grandes contadores de histórias de nosso tempo, em tudo o que isso implica: a criação perfeita de atmosferas (o terror, a melancolia, o humor e a felicidade), a organização sensível e exata das sequências de cenas, que só pode envolver a consciência do poder que uma elipse, um leit motiv, um plano subjetivo e um close-up podem ter e o amor irrefreável por uma linguagem. Lee Unkrich e sua equipe estão, através do perfeito domínio de sua técnica, se colocando ao lado dos verdadeiros gênios (o já citado John Ford, Hayao Miyazaki e Charles Chaplin me vêem à mente). Gênios porque mimetizam na tela a dor e a necessidade da separação entre a infância e a vida adulta, porque nos dão a verdadeira dimensão do ato de oferecer a mão a um amigo, porque nos explicam (com a simplicidade que só pode ser fruto de um trabalho árduo) que a saudade não passa de um desejo de estar sempre junto de alguém.

Assistir à Toy Story 3, à última vez que Andy brinca com seus amigos da vida toda, à seu olhar hesitante e assustado quando percebe que deve se separar de Woody, à ternura caótica do mundo de uma criança e de seus brinquedos é vislumbrar a despedida mais linda, mais libertadora e mais triste que a arte da animação já produziu.

É uma história de brinquedos, é uma história de humanos, é uma história dessa coisa maravilhosa que somos capazes de estabelecer entre nós chamada amizade.



*originalmente publicado aqui em 19 de junho de 2010.

* * *

Bala na agulha (estenografando sentimentos e reflexões)*


Por Mateus Moura

1º fato incontornável
Acompanhamos o classicismo de uma forma de expressão narrativa. A Pixar é hoje, industrial, ética e artisticamente falando, a mais bem sucedida empresa cultural do mundo.

2º fato incontornável
A verdade dos sentimentos só se expressam com a plenitude de suas potências através da beleza.

Toy Story 3
No lírico começo do fim, enfim adentramos completamente a mente de Andy - e a essência da Pixar - : o imaginário lúdico infantil. Reacompanhamos a brincadeira que entramos em contato do lado de fora há alguns anos atrás, mas agora de dentro. Somos jogados no imaginário infantil de fato, em toda a sua maravilhosa existência. Asas à imaginação, ao infinito e além... é o começo da última aventura de uma fase da vida de todos aqueles personagens, humanos e brinquedos.

"Toy story", como o título já diz, é uma estória de brinquedos. E é inteligentemente se compreendendo enquanto limite (liberdade) que a obra se permite os mais altos vôos. Woody e Buzz são brinquedos, não humanos. Não compreendemos enquanto experiência as visões da Senhora Cabeça de Batata, apenas nos encantamos com aquela outra forma de percepção (inventada). Toy story fala da humanidade sem dúvida, mas fala além, cria outro conceito, fala da "brinquedidade". Acompanhamos a perda da inocência de Andy, presente na vida de todos, com momentos simbólicos até parecidos (como a doação dos nossos brinquedos), mas se nos emocionamos com a triste estória do urso Lotso não é porque compreendemos como humanos a questão do abandono, mas porque compreendemos como brinquedos. As reflexões sobre a morte também não são humanas, o Inferno que Dante uma vez descreveu, na mitologia brinquedícia vira o lixão, numa das sequências audiovisuais mais belas da década. A seriedade com que este universo é animado (digo "animado" no sentido mais essencial: de dar alma ["anima"] ao inanimado), é inegável. Cada sequência é uma avalanche de beleza e significações que pretendo revisitar em momentos em que eu dispor de mais tempo para escrever com mais calma.

Faço correndo esse texto porque também não poderia passar em branco o primeiro contato...

*originalmente publicado no Cinemateus, em 21 de junho de 2010.

2.8.10

Thriller de Kurosawa no Cine CCBEU

Cine CCBEU apresenta
Céu e Inferno, de Akira Kurosawa



"Céu e Inferno" é o mergulho de Kurosawa nos contrastes do Japão urbano dos anos 60. O princípio maniqueísta da separação entre ricos e pobres numa sociedade invadida pela cultura norte-americana é dissolvido na situação extrema de um sequestro e sua posterior investigação.

Neste filme, a tendência lacrimogênea do diretor cede espaço a um audacioso "filme de gênero". Kurosawa apresenta um thriller cru, sem enfeites, em que a estrutura narrativa assimétrica e a mise-en-scéne iluminada colaboram para o total envolvimento da platéia, como nos melhores trabalhos de seus mestres americanos. A construção expressionista e o melodrama são enriquecidos com o trabalho visceral do grande Toshiro Mifune - um dos mais versáteis e encantadores intérpretes do mundo.


"Céu e Inferno" é um filme maiúsculo, cuja consistência formal e humana reflete o auge da fantástica obra de Akira Kurosawa

Miguel Haoni (APJCC - 2010)


Serviço:
05 de agosto (quinta-feira) às 18h30
no Cineteatro do CCBEU (Padre Eutíquio, 1309)
ENTRADA FRANCA

Realização: CCBEU
Parceria: APJCC
Apoio: Cineclube Amazonas Douro


Mais informações:
Comunidade e Perfil do Cine CCBEU 
E-mail: cineccbeu@gmail.com
Twitter da APJCC
Contato: (91) 88131891

A Hora Certa - Resposta a Rogério Parreira

No começo de julho, enquanto 6 indivíduos tentavam lutar para realizar a Jornada Paraense de Cineclubes, o realizador Rogério Parreira envia o seguinte email endereçado aos coordenadores do Inovacine que realizariam dentro da Jornada a "Mostra Novo Cinema Paraense":

A Pélicula mais premiada da História do Cinema Paraense o Curta-Metragem "Chama Verequete" foi esquecida pelos organizadores da jornada? e sem dúvida alguma é a que mais dialoga com a tradição e riqueza do Cinema Novo Brasileiro, onde as nossas raízes amazônicas profundas são expostas através do venerável Mestre Verequete.
 
Saudações Fraternas

Isso obviamente causou um desconforto tremendo na organização da Mostra, que chegou num consenso de que não deveríamos nos desgastar respondendo agressivamente ao email, que isso era evidentemente uma manobra para desmobilizar a construção da Jornada (que já enfretava problemas mais sérios é verdade) e que era preciso esperar uma hora mais apropriada para trazer essa questão seguindo os  princípios de "maturidade política" e do "sacrifício pelo coletivo". Mateus Moura resolveu então responder da seguinte forma:

A nossa metodologia de curadoria da Mostra privilegiou a diversidade de autores, como o Luiz Arnaldo Campos já está presente com o filme "A descoberta da Amazônia pelos turcos encantados", preferimos dar espaço também a outros cineastas e outros cinemas. Não privilegiamos também obras pelo seu histórico de prêmios, tal categoria de avaliação não tem nenhum valor crítico dentro da proposta.
 
Obrigado pela participação, compareça.

Esta resposta foi treplicada por um email com o histérico título AS TREVAS E A CURADORIA DA MOSTRA DA JOPACINE:
Em primeiro lugar gostaria de não levar em consideração o principal argumento levantado pela da mostra do JOPACINE, em relação a questão autoral, até porque tb sou um dos realizadores do curta e tenho plena consciência que o principal protagonista do filme, o nosso poeta Augusto Gomes Rodrigues (Mestre Verequete) e seu Carimbó de raiz é que está sendo omitido, na mesma freqüência com que os inimigos do Povo, tentaram historicamente proibir curadoriaas manifestações culturais populares em nome de uma cultura colonizadora. E ainda hj  mentes colonizadas (seja pela américa do norte ou pela europa) tentam desconhecer o indelével valor de uma cultura popular que tem muito a nos ensinar através da sua sabedoria, música, poesia, ritmos, cores e sonhos. Acredito que o curta-metragem "Chama Verequete" não pertence a mim nem ao Companheiro Luiz Arnaldo Campos, mas sobretudo é um rico Patrimônio da Cultura Popular Paraense, Amazônica e Universal, um filme que pertence ao coração do Povo Paraense que ao longo de sua história tem gerado só no estado do Pará mais de 150 manifestações culturais originais, mais ainda pouco reconhecidas. Segundo o Cineasta Júlio Bressane o "Cinema é a música da Luz" e a mostra da JOPACINE vai permanecer nas trevas se omitir o Ritmo-Raiz do Pará (Carimbó), o Farol que sempre brilhou e iluminou a nossa poesia cantada por Verequetes e Lucindos que virou Cinema e nunca morrerá, porque a luz que nasce no coração é eterna e a ignorância que brota na escuridão se destrói por si mesma.

Rogério José Parreira.

Pois bem,
passada a JOPACINE acredito que a hora de responder a sério estas acusações chegou. Pessoalmente nunca fugi de uma boa discussão (especialmente quando o oponente se joga na minha frente numa bandeja, com uma maçã na boca) e o fato de ter segurado essa resposta por tanto tempo me inquietou o espírito consideravelmente.
Destaco entretanto que esta resposta é escrita pelo cidadão Miguel Haoni curador da mostra. Não tenho nem vontade e muito menos, autoridade para escrever em nome do projeto INOVACINE ou mesmo pela Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema. Tudo que eu escrever está dentro de uma perspectiva pessoal dos fatos, e apenas EU respondo por estas palavras.

Let's rock:
A "Mostra Novo Cinema Paraense" que foi transferida para os dias 4, 5 e 6 de agosto no IPHAN (em virtude de problemas logísticos da JOPACINE) foi montada seguindo tais princípios de curadoria:
1 - Reunir 9 obras de 9 realizadores diferentes que poderiam oferecer uma fatia da diversidade na produção cinematográfica paraense dos últimos 10 anos. Nunca pretendemos (em virtude das limitações de tempo) exibir dentro da Mostra todos os filmes paraenses dos últimos 10 anos.
2 - Dentre a seleção dos realizadores participantes, privilegiar aqueles que nunca tiveram seus filmes exibidos nas ações do Inovacine. Darcel Andrade, Priscila Brasil, Francisco Weyl e Marcelo Marat já apareceram em outras ações nossas mas ainda assim constituem minoria dentro da programação. Além do que são relativamente poucos os cineastas paraenses que nunca entraram ou que não estão agendados em nossas programações.
3 - Através do diálogo direto com os realizadores selecionar os trabalhos mais recentes para a programação. Jorane Castro e Fernando Segtowick preferiram propor títulos mais antigos dentro de suas filmografias, acredito, por considerarem tais obras mais significativas para o debate que nós propusemos, no caso o da estética do cinema paraense.
4 - Organizar 3 filmes que juntos dariam por volta de 90 minutos de exibição por dia.

Esclarecidos estes critérios vamos aos emails:

Ao ser perguntado qual de seus filmes era o seu predileto, o italiano Federico Fellini respondeu que nenhum, afinal "desconfiava consideravelmente de um pai que se delicia com os próprios filhos". Eu compartilho desta desconfiança e um cineasta que entra em delírios de vaidade por suas próprias obras acaba perdendo o bom-senso e na sua ânsia defensiva, viola ainda mais a dignidade do trabalho. Acredito que qualquer artista precisa defender e lutar pela sua obra mas a histeria vaidosa só compromete a argumentação. Defender-se com violência sem ser atacado é como um belíssimo gol contra.

Ostentar prêmios não me soa como postura de realizador engajado na produção local e soíicito àqueles filmes que, por não serem tão reconhecidos, precisam e muito de uma mostra como esta para serem exibidos. Isso é puro egoísmo. Como curador entretanto não coloco estas questões na balança pois prêmios em festivais significam muito pouco no que me interessa dentro do cinema. "Senhor dos Anéis" fala artisticamente infinitamente menos do que qualquer filme de Alfred Hitchcock que nunca ganhou prêmios por seus filmes. Também desconfio e muito dos critérios de determinadas premiações: assistam o sub-documentário "Malabares"  de Maithê Lorena & Secy Januzzi e depois contem o número de prêmios que este "filme" ganhou. É apavorante!

O curta metragem "Chama Verequete" não foi de forma alguma "esquecido" ou "omitido". Ele simplesmente não entrou nesta programação como diversos outros filmes que caberiam na proposta. Apesar de "Chama Verequete" ter tido uma visibilidade tremenda dentro da cidade na última década, sempre me mostrei favorável dentro do Inovacine a exibir e debater este filme. Espero poder incluir a obra numa de nossas programações na capital ou em outros municípios do Estado.

Quanto ao diálogo com a "tradição e riqueza do Cinema Novo Brasileiro".... bem, não queria fazer nenhum comentário sobre a estética da obra mas...diálogo com o sub-cinema novo de "Macunaíma", "Amuleto de Ogum" ou "Bye Bye Brasil" com toda certeza. Agora se neste comentário, o cineasta quis colocar seu filme em pé de igualdade com obras como "Rio Quarenta Graus", "São Bernardo" ou qualquer filme do mestre do CINEMA Glauber Rocha então o delírio de grandeza é muito pior do que eu pensava. "Chama Verequete" é um filme desconjuntado no pior sentido da palavra (e não confunda com a desconstrução do Cinema Moderno), suas virtudes são absolutamente extra-cinematográficas. A pouca ousadia poética que o filme respira com certeza não depende do realizador de "Puxirum" ou "O Cordão do Galo", filmes instiucionais que denunciam todos os cacuetes do telejornalismo político de quinta categoria que o realizador pratica. Eisenstei também fazia filmes institucionais, mas a diferença é que o russo era um ARTISTA e fazia filmes com a ALMA e o SANGUE. Ia contra tudo e todos para imprimir a sua visão nas obras que realizava. Tal AMOR definitivamente não se observa nas obras de Parreira. Apenas a preguiça e o acanhamento.
Por vezes ouço alguns indivíduos bradarem o nome de Glauber e do Cinema Novo na tentativa de respaldar a sua atuação pífia como sub-poetas da imagem. Reduzir Glauber a "herói do povo" ou sociologia/antropologia/ciência política filmada é reduzir um artista (que para mim como amante de arte, é o sujeito mais importante de sua comunidade) a seu aspecto mais superficial e ralo. Glauber Rocha é um mestre do Cinema como John Ford, Andrei Tarkovsky, Kenji Mizoguchi e diversos outros que foram fundamentais para a sensibilização e o crescimento dos homens no século passado e, acredito, nos próximos. Se colocar no meio desse time é estupidez e covardia consigo próprio.

O cinema é uma arte coletiva, entretanto existe um profissional na equipe que se destaca dos outros pela importância e pela influência poética no resultado final. Este seria então o autor do filme e no caso aquele que direciona o trabalho dos outros profissionais e grita AÇÃO e CORTA! O diretor é segundo a tradição cinematográfica aquele que assina a obra e imprime o seu estilo no que faz. "Taxi Driver" é um filme de Martin Scorsese e não do roteirista, do produtor ou do ator principal. Isto está na base da reflexão crítica do cinema enquanto arte, vide o trabalho de Andre Bazin e da Cahiers du Cinema na construção da chamada "política dos autores". Por mais que você resista a admitir (não sem motivos) "Chama Verequete" é um filme de Luiz Arnaldo Campos e Rogério Parreira pois estes são os sujeitos definidores dos meios pelos quais o filme expressa-se enquanto cinema: os enquadramentos, os movimentos de câmera, a decupagem e a mise-en-scène.
A cômoda manobra de se esconder atrás do fenômeno abordado no filme, além de covarde, mostra um desprezo pelo filme enquanto Cinema. É inegável a importância de Mestre Verequete para a cultura local e nacional, como músico e como indivíduo devotado para a expressão artística da realidade de seu povo. Utilizar a "bagagem" de Verequete para justificar a relevância do filme é procurar na música as qualidades que dignificam o cinema. É não acreditar no cinema como elemento importante e autônomo da formação cultural de seu povo. Verequete segundo as palavras de Parreira, é usado como uma muleta que arrasta na sua força a fraqueza de um filme que não se garante.
Fazer cinema sobre Mestre Verequete, Mestre Lucindo ou ainda Benedito Nunes e Lúcio Flávio Pinto quase sempre justifica resultados cinematograficamente superficiais. Imaginem eu, Miguel Haoni, fazendo um filme medíocre sobre o gigante Dalcío Jurandir; em seguida confortavelmente afirmo: "quem não gosta do meu filme é inimigo do Povo, é colonizado, falar mal do meu filme é falar mal de Dalcídio". Muito conveniente não acham?. Fazer novela sobre a Cabanagem usando o estilo de "Chaves" em vez de elevar, só vai diminuir a causa. Como diria Dziga Vertov (roubando Maiakovski): "um conteúdo revolucionário, precisa de uma forma revolucionária" . Ainda vou ver um filme de verdade sobre os nossos heróis do carimbó...

O cinema é universal: em todos os países existem picaretas e gênios. No meu critério Howard Hawks, Ozualdo Candeias, Bong Joon-Ho e Ingmar Bergman tem o mesmo peso, sem diferença. Não defendo um filme por ser pobre, ou rico, ou classe média defendo o filme que mosre a alma de quem o fez. Nesse quesito "O Cordão do Galo" e "Puxirum" são tão grandes quanto "Transformers" e "Avatar". Os quatro são insignificantes.

Pedantismo é a ação de querer aparentar mais do que se é. "Cinema é a música da luz" é frase de um cineasta-imperialista francês chamado Abel Gance. Será que a frase perde o sentido agora? Será que o verso de um francês vale menos que de um brasileiro?
E outra: Cinema = Música da luz, Música = Música. Não vou explicar as palavras de Gance mas estamos falando de artes autônomas e que merecem total respeito dentro de suas naturezas poéticas. O cinema não precisa da música, da psicologia, da literatura, das chamadas "causas humanitárias"  nem de nada para ser maravihoso. O cinema não precisa se envergonhar de ser  cinema. Isso basta.

Miguel Haoni
(aficcionado por Frank Capra e Márcio Barradas)

PS: Preciso declarar minha admiração pelo co-autor de "Chama Verequete" Luiz Arnaldo Campos, um artista que ousa e não se envergonha de assinar suas obras. Ao assistir o seu "Turcos Encantados" não vi ali o meu filme predileto, mas vi que por trás daquelas imagens havia um sujeito que respeitava o seu trabalho e colocava o seu coração nele. Valeu!

Nota de esclarecimento


Caros leitores e fãs do cinema, no dia 26 de julho foi enviado um texto para a mala direta do Cine CCBEU (por mim) com uma bela critica sobre o filme “O Cineasta da Selva” de Aurélio Michiles assinada em meu nome, porém, a parte mais significativa do texto foi recortado do texto “a borboleta do filme” produzida pelo crítico e pesquisador de cinema Carlos Alberto Mattos. Venho espontaneamente esclarecer este acontecimento por entender que a Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema tem como principal característica o respeito aos produtores, realizadores e críticos, sendo assim necessário esse esclarecimento para que possamos continuar a desenvolver o nosso potencial criativo de forma íntegra, ética e completamente comprometida com todos que fazem da sétima arte uma “religião”, necessitando de fé, amor e sinceridade; a APJCC tem como excelência esse compromisso com todos que acompanham sua trajetória, vocês que marcam presença nas sessões, que contribuem nos debates, nessa forma de construir utopias alcançáveis, reconhecendo o poder transformador que o cinema tem com essa janela que nos leva para uma rua, um deserto, um universo que pode ser significativo (ou não), isso é definível pela forma que você se relaciona com essa caverna sombria e puramente encantadora.
A APJCC nesses quase três anos de atividade já trilhada tem como marca sua seriedade, paixão e compromisso com o cinema e seu público, sentimentos essênciais, e que os diferencia; e é por prezar essa forma de existir que vamos sempre manter a transparência com todos aqueles que confiam em nosso trabalho.
Por fim, parabenizo o diretor Aurélio Michiles pelo belo filme “O Cineasta da Selva” que foi exibido no dia 30 para 25 pessoas da comunidade rural de São João Batista, localizada no município de Santa Barbara, sede do Instituto Refazenda.
Agradecemos a quem acompanha as atividades por aqui e convidamos a continuar nos acompanhando.

Abraços cinéfilos,

Amigos leitores,

Samir Raoni

1.8.10

Cineclubes fundam a ParaCine

Federação Paraense de Cineclubes foi criada no último domingo, 25 de julho. 


Foi-se o tempo em que Belém ficava vazia nas férias de julho. Bastou um breve passeio, neste último domingo, 25, para ver que as pessoas estavam nas ruas e nas praças aproveitando o dia de sol intenso, próprio do verão paraense.

Mas enquanto a cidade fervilhava, neste final de semana, com trocentas programações, incluindo aí as apresentações de teatro e debates do IDEA 2010, pessoas ligadas ao audiovisual se reuniam para fundar a PARACINE - Federação Paraense de Cineclubes.

O encontro de cineclubistas, vindos de vários outros municípios paraenses, aconteceu de sexta, 23 a domingo, 25, no Colégio Pablo Mufarrej, durante a Jornada Paraense de Cineclubes. Participaram, entre outros, representantes de cineclubes de Belém (20); Oeiras (01); Ananindeua (03); Santa Bárbara (01); Redenção (01); Colares (02) ; Soure (03); Altamira (02); Santarèm (02); Marabá (01); Parauapebas (01).

Além dos cineclubistas, a jornada contou com a presença do secretário de educação do estado do Pará, o professor Luíz Cavalcante; do secretário geral do Conselho Nacional dos Cineclubes Brasileiros, o senhor João Batista Pimentel Neto; do representante do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Pará, responsável pelo serviço de refeição aos participantes; do presidente da Fundação Curro Velho, Valmir Bispo; da sacerdote afro-religiosa Mãe Nangetu, e da presidente da Associação Brasileira dos Documentaristas e Curta-Metragistas do Pará, Dani Franco.

Texto e foto: Blog Holofote Virtual - publicado originalmente em 27 de julho