8.8.10

Testemunho sobre a Mostra Novo Cinema Paraense*

Por Mateus Moura

Não existe “cinema paraense”, mas cineastas que residem no Pará, e fazem cinema.

“Chega de igreja!”, bradou Priscila Brasil. Marcelo Marat concordou.
Vivenciei nesses últimos 3 dias o que denominei de “a maior fagulha de clareza coletiva de cineclubismo desse ano”. Da polêmica que antecedeu o evento sobrou apenas a batalha saudável de idéias. Foi quem queria realmente contribuir para a discussão. Natural e harmoniosamente, conclusões coletivas restaram lado a lado às discordâncias individuais. O que prevaleceu não foi nem a discussão sobre o “novo”, nem sobre o “paraense”, mas sobre o CINEMA.

“Não existe o cinema paraense”, disparou Nilson Bala. E nessa hora senti uma pontada na nuca, me lamentando termos perdido nome tão interessante para a Mostra. Entretanto, o nosso título não perdeu a realeza de seu significado profundo: o “Novo Cinema Paraense” seria sobre os últimos filmes aqui produzidos, mas, sobretudo, sobre uma nova consciência acerca desse tal cinema, construída através da discussão. Enquanto o filme trabalha o inconsciente coletivo, o cineclube trabalha com o consciente coletivo. É o apagar e o acender das luzes. O “Novo Cinema Paraense”, logo, não se configura numa tentativa de rotulação, mas de provocação.

“Espaço democrático horizontal expressivo intelectual”, nunca esses pleonasmos todos fizeram tanto sentido. Todos estavam à vontade: espectador, cineasta, crítico, produtor, ator, cineclubista, claquetista, filme. Ao invés da busca de uma identidade regional forçada e demagógica, tudo foi espontaneamente analisado através da sede de conhecer profundamente os objetos. Concluímos que é inegável a excelência cine-criativa de Marcelo Marat, Priscila Brasil, Márcio Barradas... A crítica – decidiu-se – deve ser sempre construtiva. O artista – vislumbrou-se – sempre livre.

O artista é o que não tem medo de errar. Se errar é humano e perdoar é divino, que Deus nos perdoe por sermos errantes. “Viver é perigoso, e é preciso ter coragem”, disse Rosa. Encarar a frio e sem desassossegos grandes as coisas todas que balbuciamos sobre é a grande sabedoria dos diálogos à luz da razão. Não é nada demais a arte, a crítica, a contemplação estética, a denúncia social; não é nada mais do que só tudo isso. O que aprendo no contato com o outro é essa troca, esse quinhão de conhecimento solidário.
Logicamente, esse não é um texto definitivo sobre o que aconteceu nos dias 4, 5 e 6 de agosto de 2010 no auditório do IPHAN. Menos ainda o texto oficial da avaliação do INOVACINE sobre a Mostra.

Não é nada mais que um testemunho pessoal.

*publicado originalmente em Cinemateus

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