27.9.09

Tem início o ciclo "Desbravando a Nouvelle Vague"


Cineclube Aliança Francesa apresenta:




Desbravando a Nouvelle Vague

O que é a Nouvelle Vague? Um movimento? Um grupo? Uma tendência? Truffaut dizia que a única coisa em comum entre eles era a busca pelo sucesso de bilheteria e a preferência pelos fliperamas do Champs Elyseés, Chabrol brincava que se existia uma “nova onda” era preciso saber nadar...
Quem são os pais, os filhos, os bastardos, os abortos? Quem aceita, quem despreza? Quem fez, o quê? Todas essas perguntas o ciclo “Desbravando a Nouvelle Vague”, de setembro à novembro, irá explorar. Não há o tempo ideal para o panorama completo. Haverá o visto e o não visto, os clássicos e os raros. Fica o dito e o não dito. Alguma coisa há de se salvar...


Mateus Moura.

Abertura:

Caça ao leão com arco (La chasse au lion à l’arc). Jean Rouch. 1965. cor. 75’.




Quem foi Jean Rouch?
Atenção senhoras e senhores... conhecem a história do homem que desbravou a África com sua câmera e seu gravador? Conhecem a coragem e a sensibilidade, a inteligência e a curiosidade, a perspicácia e a paciência desse homem-cineasta?
Quem é Jean Rouch?
Influenciado por Flaherty, Vertov, pelo neo-realismo italiano (especialmente Rossellini), Jean seguia à risca o lema da câmera na mão e uma idéia na cabeça: o filme de autor máximo!
Quem foi Jean Rouch para a Nouvelle Vague?
O homem que influenciou o modo de filmar de um certo Coutard, que alertou para a riqueza da confusão entre documentário e ficção, que acreditou na realidade acima de tudo, e a enfrentou com uma máquina objetiva pulsando em mãos, um coração subjetivo pulsando em voz.
La chasse au lion à l’arc (Caça ao leão com arco), de 1965, filme nunca lançado em dvd no Brasil é obra rara imperdível... Jean Rouch, como de praxe, apresenta com sua voz de poeta, o filme: “Crianças, em nome de Deus, escutem a história de Gawey-Gawey, a história de seus pais, a história de seus avôs, a história dos caçadores de leão com arco!”. Filme para o futuro, Rouch narra o presente que é passado, o primitivo que muitas vezes esquecemos, a luta do homem contra a natureza que tanto ouvimos falar... vemos a morte, a luta contra a morte, a vida, a luta contra a vida, vemos o mundo em estado bruto... tudo graças ao cinema, tudo graças ao cineasta.

Mateus Moura.


SERVIÇO:



Local: Fundação Ipiranga (Av. Almirante Barroso, 777, entre Tv. Humaitá e Tv. do Chaco – ao lado da Tv Cultura)
Data: 30/09/09 (quarta-feira)
Horário: 19:00
Legendas em português
Entrada franca



Resto da Programação:

07/10 – Os amantes (Les amants, Louis Malle, 58)
14/10 –  Bob, o jogador (Bob, Le flambeur, Jean-Pierre Melville, 56)
21/10 - Minha noite com ela (Ma nuit chez Maud, Eric Rohmer, 69) *Comentários de Ernani Chaves
28/10 – não haverá programação

04/11 - Os incompreendidos (Les 400 coups, François Truffaut, 59)
11/11 – Os guarda-chuvas do amor (Les parapluies de Cherbourg, Jacques Demy, 61) *Comentários de Cauby Monteiro
18/11 – Nas garras do vício (Le beau Serge, Claude Chabrol, 58)
25 /11 – Celine e Julie vão de barco (Celine et Julie vont en bateau,Jacques Rivette, 74)

AÇÃO: APJCC (ASSOCIAÇÃO PARAENSE DE JOVENS CRÍTICOS DE CINEMA)
BLOG: http://apjcc.blog.terra.com.br/
COMUNIDADE:  http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=37014176

22.9.09

ESTRÉIA O INOVACINE COM CABRA MARCADO PARA MORRER


Da parceria entre FAPESPA (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará), APJCC (Associação de Jovens Críticos do Pará) e Ná Figueiredo, surge o mais novo cineclube da cidade: o INOVACINE. Com regularidade quinzenal, às segundas-feiras, no espaço Ná Figueiredo (Av. Gentil Bittencourt, n°449), uma sessão cineclubista será realizada pela FAPESPA, com a curadoria da APJCC.
A programação, que inicia no dia 28 de setembro, pretende, até o fim do ano, seguir 3 linhas norteadoras, porém não totalitárias: o cinema brasileiro, o cinema documental e o cinema local.
São 10 filmes até o dia 21 de dezembro. Quatro foram escolhidos pelos membros da APJCC e receberão sua curadoria, três foram escolhidos por cineastas da região metropolitana de Belém, e os outros três são curtas-metragens dirigidos ou produzidos pelos mesmos. Nesta sessão para ilustres convidados, um filme de curta duração próprio e um de longa do seu gosto serão exibidos um após o outro; e, ao fim, uma conversa acontecerá entre cineasta e público.
O objetivo é divulgar a cultura cinematográfica mundial, refletir o cinema em si (ficcional e documental), e percorrer com os olhos e ouvidos os caminhos que ele desbrava.
Depois do sonho maravilhoso, a vigília curiosa. Assim o homem evoluiu, assim o homem evoluirá.

Mateus Moura (APJCC-2009)



Programação Inovacine:



28/09 - Cabra Marcado Para Morrer. Eduardo Coutinho. 85. p/b & cor. 119’.
















Um filme documental sobre um filme de ficção que não pôde ser terminado pela censura política que esta fita ia abordar - reconstruindo ficticiamente um caso real. Então: um projeto fílmico que vai ser retomado, 17 anos depois, refletindo na sua própria História, a sua morte prematura e indesejada. Ressuscitado, o filme, além de iluminar a realidade do contexto que o impediu, capta o som das vozes que envelheceram neste tempo em que não foram eternizadas na película. Vemos a mudança de discursos, a reflexão de um caso agora mais distante, o aparecimento de personagens que na época eram crianças e que agora assumem posições, as lágrimas de nostalgia, as lágrimas de ranços nunca curados, os sorrisos de contentamento ao ver imagens da juventude física, as fotos de um momento importante (para a macro e a micro história).
Uma reflexão sobre a luta de classes, a reforma agrária, a miséria do povo, a perseguição política, a Justiça injusta, a religião popular, o trabalho, a morte, a linguagem cinematográfica, a posição política do cineasta, a briga entre cineasta-cientista e seu objeto, a mudança do contexto nacional, a História, as vidas, os relatos pessoais... Tudo isso em linguagem de imagem/som, não em escrita. Trabalho etnográfico, antropológico, sociológico, ontológico, artístico.
Eduardo Coutinho faz um cinema que muda a vida diretamente, ao invés de um documentarista de classe média que “conscientiza o povo das injustiças sociais” (algo muito comum na década de 60), o cineasta participa e modifica a vida das pessoas; seu cinema não tem a petulância de ensinar, mas, ao contrário, a humildade de aprender, a vontade de ajudar e a sensibilidade de conversar.
“Cabra marcado para morrer” é um filme que ilumina o passado, o presente e o futuro do cineasta e do cinema brasileiro, é obra importantíssima para compreender e mergulhar no cinema nacional.



Mateus Moura (APJCC-2009)

12/10 - Serra Pelada – esperança não é sonho. Priscila Brasil (curta).
F for Fake. Orson Welles. 75. 85’.
Comentários: Priscila Brasil

26/10 - Eles Não Usam Black Tie. Leon Hirszman. 81. Cor. 120’.



09/11 - Outras Histórias. Darcel Andrade e Wilza Brito (curta).
Filhos do Paraíso. Majid Majidi. 97. Cor. 89’.
Comentários: Darcel Andrade

23/11 - Serras da desordem. Andrea Tonacci. 06. p/b & cor. 135’.



07/12 - Açaí com Jabá. Alan Rodrigues, Marcos Daibes e Walerio Duarte (curta).
Estômago. Marcos Jorge. 07. Cor. 113’.
Comentários: João Inácio

21/12 – Iracema - uma transa amazônica. Jorge Bodanzky e Orlando Senna. 76. Cor. 91’.

SERVIÇO:
Local: Loja Ná Figueiredo (Av. Gentil Bittencourt, 449, entre Dr. Moraes e Rui Barbosa)
Dia da semana: segunda-feira
Hora: 18:30
Entrada franca



REALIZAÇÃO: FAPESPA
PARCERIA: APJCC
APOIO: LOJAS NÁ FIGUEIREDO

Underground de Kusturica do CCBEU


Cine CCBEU apresenta: "Underground" de Emir Kusturica



"Underground" é um poema à geografia do delírio. Emir Kusturica sabe, como todo grande artista, que a melhor maneira de dizer a verdade é mentindo e o faz quando, ao abrir o alçapão de seu universo, revela uma criação que alia comédia política, alegoria farsesca, música cigana e caricatura numa mise-en-scéne embriagada de desenho animado e traumas de guerra. Tudo no tudo.


Miguel Haoni
(APJCC - 2009)


Serviço:
Dia 24/09 (quinta)
às 18:30 h
No Teatro do CCBEU
(Padre Eutíquio, 1309)
ENTRADA FRANCA


Realização: CCBEU
Parceria: APJCC
Apoio: Cineclube Amazonas Douro

Programação de outubro na comunidade do Cine CCBEU:
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=87934260

21.9.09

O resgate da inocência




“O desenho não é só um prodígio da computação gráfica. Tem conteúdo, sendo este não uma ingênua moral de fábula como se pode supor se visto na superfície”.



O segredo de qualquer filme de animação está na historia e não nos métodos para contá-la”. E ainda: “Para cada risada deve haver uma lágrima... o coração é que importa”.



“Cinema não é só a racionalidade estética. É a arte sensibilizando e extraindo emoções”.



O que tem de tão errado nessas três frases acima (extraídas do texto de Luzia Miranda Álvares sobre UP) que me motivam a escrever um segundo texto sobre a nova ANIMAÇÃO da Pixar?


A questão central é que desde muito tempo as animações da Pixar sofrem com o que de pior se pode fazer com qualquer obra de arte: defendê-la pelos motivos errados. Sim, porque se falassem mal de Up, por exemplo, com argumentos sem fundamento seria mais fácil de provar o contrário com argumentos bem fundamentados.


Comecemos do começo: “o desenho não é um prodígio da computação gráfica”. “SÓ”?! Como assim “SÓ”? Me sinto algo perplexo por ter que lembrar que a animação é uma LINGUAGEM, não um gênero narrativo, e que LINGUAGEM quer dizer, antes de qualquer coisa, uma FORMA DE EXPRESSÃO. Por que a Literatura, a Escultura, a Pintura e o Cinema não são a mesma coisa? Porque cada uma dessas artes utiliza uma linguagem para se expressar, e como existe um número algo limitado de temas no mundo (quantos já falaram de amor, guerra, paz, ódio, amizade, sexo, violência?) o crítico de arte não deveria levar em conta, antes de qualquer coisa, COMO essas questões são tratadas? Ou por acaso existe uma hierarquia de assuntos, de temáticas, que são uns mais dignos e importantes do que os outros? A Declaração Mundial dos Direitos Humanos é uma obra mais importante do que Curtindo a vida adoidado por tratar de assuntos mais “sérios”? Mas, vou com calma, e me detenho na já citada perplexidade diante do início dessa citação de Luzia Miranda Álvares.


UP é um prodígio da ARTE de fazer animação utilizando a computação gráfica sim, e isso já basta. A animação digital não usa lápis e papel, usa mouse e programas de computador: a Pixar faz de uma máquina uma ferramenta para produzir a beleza estética das suas produções – e se não fizesse isso bem, quero deixar bem claro, eu não me daria ao trabalho de escrever nem 1 linha sobre as suas animações nem que elas contassem a saga de toda a humanidade em um curta de 1 minuto. O que me leva a segunda parte dessa primeira citação: “Tem conteúdo, sendo este não uma ingênua moral de fábula como se pode supor se visto na superfície”. Mais uma vez a perplexidade. Estaria se falando das fábulas clássicas? Aquelas que crescemos ouvindo de nossos pais? Aquelas que Walt Disney passou para a sua linguagem produzindo clássicos geniais e eternos como A Bela Adormecida, Alice no País das Maravilhas e Peter Pan? Mais uma vez não entendo (ou prefiro não entender) do que a crítica está falando. É necessariamente ruim uma fábula ser ingênua? E ter moral? E a que espécie de moral se refere aqui?


Gosto muito de uma crítica publicada no site da Revista Cinética, assinada por Diego Assunção, que fala sobre Wall-e, e que inicia da seguinte forma: “Wall-E é um filme infantil. Só que engana-se quem pensa que o uso da palavra “infantil” trata de algo inferior. Infantil está mais para uma denominação que, consigo, leva a arte para aquilo que deveria ser o seu real objetivo: um instrumento de libertação”. Mas que libertação é essa? Felizmente Assunção continua e se explica lindamente: “Por que o gênero infantil é “libertino”? Primeiro por causa do seu público, muito mais disposto a confiar e aceitar também a liberdade que o artista possa vir a tomar em qualquer inverossimilhança de roteiros, de regras morais, físicas e geográficas. Sendo a criança rebelde, livre por natureza (lembremos de Jean Vigo e seu Zero de Conduta), ela é a primeira a aceitar com os olhos livres e os corações abertos uma história de amor improvável, protagonizada por um casal formado por uma bela mulher e um monstro (A Bela e a Fera); a sentir as implicações morais e éticas do nariz mentiroso de Pinocchio (no filme homônimo); ou acompanhar com esmero a via-crúcis de um rato para se tornar cozinheiro (Ratatouille)”.


Espero que com as palavras de Assunção eu tenha deixado claro o motivo pelo qual o adjetivo “ingênua” me causou tamanha comoção. O que não falta é gente para elogiar as animações da Pixar por não serem “apenas para crianças”, por possuírem um “subtexto interessante para adultos”. Nada me causa mais asco: é desrespeito com a Pixar e com as crianças, além de ser ignorância – uma das coisas que têm ficado cada vez mais claras nas últimas produções da Pixar é o fato de que os seus artistas fazem a obra que querem sem uma obrigatoriedade com públicos pré-determinados.


Quem assistir os extras da edição especial de décimo aniversário de Toy Story encontrará John Lasseter, Pete Docter e Andrew Stanton (respectivamente diretores de Toy Story, Monstros S.A. e Wall-e) conversando sobre como foi imprescindível para a produção das sagas de Woody e Buzz Lightyear que eles pudessem trabalhar em LIBERDADE. Sem se preocupar com o “fato” de que as crianças “esperavam” um vilão, muita cantoria e uma história de amor ali pelo meio da história: Lasseter fez a animação que quis e como grande animação que é foi apreciada por muitos e muitos – crianças e adultos, cada um apreendendo aquele universo de uma forma e sento cativado por diferentes motivos.


A Pixar faz suas animações para o mesmo público que Alfred Hitchcock fazia seus filmes: os apreciadores de grandes obras de arte. Walt Disney fazia suas animações tradicionais (nomenclatura meramente classificatória), com seus vilões, sua cantoria, sua história de amor ali pelo meio e as fazia genialmente, por quê? Porque ele se importava com a forma com que iria contar a história.


O que nos leva à próxima citação, que na verdade é a crítica belenense citando Mr. Walt Disney: “O segredo de qualquer filme de animação está na historia e não nos métodos para contá-la”. Citação que pode enganar leitores desavisados: sim, Walt Disney realmente disse isso – falta um detalhe, no entanto. Os “métodos” a que ele se refere são os meios pelos quais você vai resolver contar uma história: ele não se importava se fosse em animação tradicional ou com a câmera cinematográfica – contanto que essa história fosse BEM CONTADA. Realmente, para Walt Disney a história tinha um lugar essencial nas suas produções, o que só reforça o fato de que, sendo ele tão apaixonado por aquilo que ia contar, é uma preocupação central e indispensável como essa narrativa nos será apresentada. Afinal que espécie de contador de história é tão apaixonado pelo seu conteúdo que prefere narrá-la de qualquer jeito? E indo para um exemplo mais cotidiano, que humorista simplesmente deixa de lado o modo como vai contar uma piada acreditando única e estritamente nas palavras que ele vai agrupar para formar sentenças que provoquem o riso?


Por fim chegamos a última citação: “Cinema não é só a racionalidade estética. É a arte sensibilizando e extraindo emoções”. Acho que nesse ponto do texto não preciso mais lembrar o leitor que a Pixar não faz cinema e sim animação (usei o caps lock acima por um motivo). Então vamos logo à parte mais absurda: a “racionalidade estética”. Duvido muito que Federico Fellini, Glauber Rocha, Roberto Rossellini e Martin Scorsese se refiram às suas preocupações estéticas como apenas “racionais”. Ver um filme de Glauber Rocha é sentir o sangue e o coração do diretor em cada fotograma seu, na criação de uma estética própria. Toda a dor de cabeça que esses e muitos outros grandes diretores de cinema têm por conta das questões estéticas estão construindo algo que está sendo dito sim, mas não podemos nunca esquecer que o que se conta só é o que se conta pela forma como se conta. Quem se esquece da fábula do rei que mandou matar os mais diversos videntes que lhe diziam que toda sua família seria destruída e só ele restaria sozinho e que elegeu um único vidente como seu conselheiro por este ter-lhe dito que sua família seria levada à morte mas que ele sobreviveria como o sol que iluminaria o futuro da nação e levaria seu povo à bonança? AINDA preciso dizer que foi o jeito que o vidente/conselheiro usou para dar a notícia que salvou sua cabeça?


Eu não amo Taxi Driver porque fala sobre violência, nem A Doce Vida porque fala do vazio existencial de uma geração, e muito menos Terra em Transe por ser uma crítica política: amo esses filmes porque disseram o que disseram maravilhosamente, utilizando a imagem (recurso máximo do cinema) de formas ESTETICAMENTE lindas. Não há apenas racionalidade nisso: isso É a sensibilização, isso É a extração de emoções.


UP foi mal defendido. A sensibilidade de Pete Docter passou despercebida. A sua genial ontologia de objetos, a perfeita construção de personagens, as brilhantes elipses para mostra a passagem do tempo – tudo foi reduzido a quase nada e nos deparamos com críticos elogiando a discussão de “direitos humanos” durante a animação. E mesmo quando se trata do conteúdo que existe, este é negligenciado: até agora não li uma palavra sobre a última cena – a casa à beira da cachoeira, a maneira de Docter nos mostrar pela imagem que é preciso, sim, seguir em frente, mas para isso existem certas coisas que precisamos levar conosco para continuarmos a ser capazes de ir adiante. Eu já havia dito isso, quando comentei o texto de Luzia Miranda Álvares em seu blog, porém até agora meu comentário não foi “aprovado”. Luzia diz que está aqui para construir. E eu pergunto: construir o que?



(Felipe Cruz – 2009)



“Ao planejar um novo filme não pensamos em adultos, não pensamos em crianças. Pensamos naquele lugar bem puro dentro de todos nós que o mundo nos fez esquecer e que o filme pode resgatar.” (Walt Disney)



p.s: texto de Luzia Miranda Alvares que é citado: http://www.blogdaluzia.com/2009/09/ainda-up.html ou http://www.blogdaluzia.com/2009/09/up-altas-aventuras.html
p.s2: se os textos acerca dessas questões estão sendo publicados na coluna ‘Panorama’ do jornal ‘O Liberal’, peço que este componha a discussão.


Uma arte chamada cinema



Das 41 linhas do texto de Luzia Miranda Alvares sobre o filme do ano (Inimigos Públicos) 29 são para nos contar o enredo. Das parcas 12 restantes, nada se fala sobre o que realmente interessa... Não, tudo bem, vamos ser generosos, existe uma linha (a última) que a nossa maior crítica se detém sobre a questão cinematográfica, lá está:
“Trabalho interessante de um diretor muito talentoso.”
Afinal, Luzia Miranda Alvares é crítica de que? De cinema?... Afinal, Inimigos Públicos é obra de que? De cinema? ...
Acreditamos, quando lemos críticas deste viés, que o cinema deveria ser apresentado como uma arte plástica antes de ser uma arte narrativa, simplesmente para tentar sanar o velho vício da repetição da estória, da recontação do enredo. É impressionante, mas ainda se acredita que a beleza de Inimigos Públicos ou Up está no o que é dito e não no como. O cinema americano tradicional não é um veículo para se contar uma estória, mas uma ferramenta; e é daí que vem toda a confusão.
Luzia Miranda Alvares vem de uma tradição de críticos que não serviram para nada a não ser alienar gerações de cinéfilos tapando seus olhos e seus ouvidos para o que há de mais essencial nessa arte. Afinal, se o cinema é só contar uma estória, porque tantos diretores bateriam tanto a cabeça com elementos (ou “racionalidades estéticas insensíveis”) como enquadramento, mise-en-scène, movimento de câmera, montagem, som, luz?
Ser escritor de sinopses opinativas, ou produtor de resenhas estéreis, ou narrador de superficialidades, ou aplicador de adjetivos, ou enterteiner jornalístico, ou esbanjador de enciclopedismo primário, sem dúvida não é ser crítico de cinema. Conhecer uma obra cinematográfica não é conhecer o ator, o produtor, o diretor, o ano em que o filme foi feito e quantos “oscares” ele levou, mas conhecer sua linguagem, seu estilo, seu autor. O papel do crítico de arte é dialogar sobre algo que interesse enquanto pensamento acerca da experiência estética durante e após a contemplação da obra de arte. E isso não quer dizer que um crítico não tenha a possibilidade de ser bom por questões geográfico-econômicas ou etárias, em um país subdesenvolvido como o Brasil, jovens como Ruy Gardnier são lidos gratuitamente na internet e sabem do que falam; sobre o papel do crítico ele diz: “Creio que o papel de um crítico é iluminar certos aspectos artísticos e influenciar seu leitor a observar além da superfície da obra (a intriga, os atores etc.) e travar contato com sua criação expressiva”.
Inimigos Públicos não é a obra que é pelo trabalho de reconstrução (competentíssimo por sinal) da produção, mas pela permanente reconstrução plano a plano da geografia em que John Dillinger está imerso. A cena em que Dillinger é morto é um belo exemplo, ali Mann utiliza todo seu arsenal estético-técnico: a mise-en-scène da multidão entre John e seus algozes, a câmera lenta utilizada no momento certo dilatando a duração dramaticamente, a decupagem em singles-shots (planos que colocam um só personagem em destaque)... “Mise-en-scène”, “câmera lenta”, “decupagem”, “single-shots”, palavras pouco vistas nos textos escritos diariamente para O Liberal na coluna Panorama... Falar sobre Cinema é falar sobre Tempo e Espaço e não sobre o tempo da lei seca e o espaço de Chicago. Falar sobre Cinema é falar de duração, corte; enquadramento, extracampo.
Tudo bem, é importante localizar o filme em seu contexto histórico, principalmente do gênero gângster (um gênero histórico), mas basta 1 linha.
1 linha para falar de cinema e de Michael Mann sobre Inimigos Públicos, e: “Trabalho interessante de um diretor muito talentoso” é fazer qualquer coisa, menos crítica de arte, não dessa arte chamada cinema.

p.s: se os textos acerca dessas questões estão sendo publicados na coluna 'Panorama' do jornal 'O Liberal', peço que este componha a discussão.
p.s2: texto de Luzia Miranda Alvares que é citado: http://www.blogdaluzia.com/2009/07/inimigos-publicos.html

(Cauby Monteiro & Mateus Moura, APJCC-2009)

20.9.09

Todos dizem eu te amo...



Se me contassem não acreditaria, chega a ser inverossímil a patética luta do casal 20 do cinema paraense na proteção da sua falsa lenda. No seu último artigo (“Chamem chapeuzinho vermelho!”), Pedro Veriano responde as críticas feitas por Francisco Weyl (no texto “Nem lobo nem chapeuzinho, a culpa é dos narradores”), botando no mesmo saco o que ele chama de “jovens críticos”. Fazendo a citação já manjada em seus textos da frase de Lampedusa e as metáforas nada funcionais sobre a esperança e o amor, o nosso mais antigo amante de cinema fala muito para não dizer nada, enquanto Luzia escreve o segundo texto sobre Up recontando (em palavras) a estória que todos já viram (em imagens).
Me interessei bastante pelos textos do Veriano quando ele reclama da forma como os poderes públicos tratam o cinema e a cultura na cidade, sua indignação e sua contribuição na discussão de um problema cultural público me emociona, admito que pela primeira vez “ponho fé” no Dr. Pedro. Pena que ele se faça de surdo, mudo e cego para várias questões. Quando ele diz que “sinceramente eu gostaria de ver os reclamantes de hoje à testa dos projetos de produção e exibição cinematográfica regional” ele só lê a coluna da sua mulher (Luzia Miranda Alvares) e do seu companheiro da Troppo (Marco Antonio Moreira); se fosse nos quadradinhos veria que toda semana tem duas programações (no CCBEU e na Aliança), que na Marambaia e na Campina exibem filmes locais, que de 15 em 15 dias um filme maldito é exibido no Líbero, que um ano atrás haviam períodos que existia uma programação de 4 filmes por semana, gratuita e com debate e ensaio crítico escrito distribuído no fim. Se “os críticos dos críticos” não ganharam um espaço foi apenas o que os “velhos críticos” embargam, e, pior, cantam, de cara dura, que divulgam e apóiam as atividades cineclubistas locais.
“O problema das exibições alternativas existia” em 2007, quando a famigerada APCC, do alto do seu trono, fazia listas no fim do ano e era convidada para falar de cinema e do seu heroísmo enquanto a cidade estava entregue ao moviecom. Em 2007, na criação do Cine UEPa, os contatos com o Dr. Pedro e a Dona Luzia foram feitos, o apoio foi pedido, convites foram propostos, Mosqueiro na sexta era sagrado, o cinema e o cineclubismo podiam esperar (entretanto em programações de universidade no Líbero no mesmo horário, um jeito se dava). Não é uma questão de rancor ou “choramingação”, mas de fatos. Ninguém parou, todo mundo foi sozinho, construiu sem ajuda de ninguém, e com certeza foi melhor assim. O chato é ficar ouvindo papo-furado, o chato é ficar vendo as falsas-lendas dizendo que divulgam, que fazem crítica, que defendem o cinema, que são bons e educados. A verdade é que o cinema no Pará estava morrendo pelas falsas lendas... estava.
E se é pra fazer um parágrafo dizendo o que é amar cinema, digo com negações entre parênteses: Amar cinema é querer ver o filme em seu formato completo (não exibir um filme com 20% da tela fora como é feito no IAP e nem se tocar), amar cinema é pensar e, quando ter a oportunidade, falar de cinema (não assistir Rebecca e falar de feminismo, ou No tempo das diligências e falar de racismo), amar cinema não é ser “cult”, nem “cinemaníaco”, mas pelo menos ter visto e saber do que se trata o filme que decidiu exibir (não dizer que Cat people é um clássico do cinema francês e recomendar fingindo que é um guru cinematográfico), amar cinema é escrever sobre cinema (não reescrever o enredo do filme e dar estrelas de qualidade)...
Amar cinema não consiste apenas em escrever que ama cinema.

p.s: Se só o Lobo sabe mexer nos equipamentos do Centur e foram contratados, via concurso público, senhores que não dominam a técnica do equipamento que lidam, a culpa só pode ser do processo. Se se contrata um técnico, ou lhe é cobrado o pré-requisito de dominar a mecânica do serviço, ou - se se contrata o homem sem técnica - o empregador providencia a capacitação.
p.s2:se os textos acerca dessas questões estão sendo publicados na coluna 'Panorama' do jornal 'O Liberal', peço que este componha a discussão.
p.s3: link do texto de Pedro Veriano que este, de certa forma, responde: http://www.blogdaluzia.com/2009/09/chamem-chapeuzinho-vermelho.html

Mateus Moura (APJCC – 2009).

12.9.09

Jack Nicholson protagoniza o clássico neo-noir de Roman Polanski, quinta no Cine CCBEU


Cine CCBEU: "Chinatown" de Roman Polanski



Um ano de grandes filmes no cinema norte-americano marca a volta do diretor aos Estados Unidos após a tragédia que envolveu o assassinato de Sharon Tate. Roman Polanski, aproximadamente 4 anos depois de ter perdido a esposa pelas mãos do maníaco Charles Manson, volta à América para dirigir o que muitos chamariam a sua obra-prima. Chinatown retrata a podridão que se esconde numa cidade tão controversamente acolhedora quanto a Los Angeles dos anos 1930 foi, inclusive, para os vários diretores europeus que fugiam da guerra no velho continente. A figura do detetive particular J.J.Gittes, interpretado por um Jack Nicholson fenomenal, guia a câmera de Polanski, que, por sua vez, guia o olhar do espectador. Como ele, somos enganados, manipulados e descobrimos que também não sabemos com o que estamos lidando. Até que as coisas se desvendam aos poucos e o caso de adultério se transforma em uma complicada trama política que reconstrói o processo de incorporação do Vale San Fernando em 1915, para desembocar em uma verdade tão dura quanto inimaginável: um terrível segredo de família. Com elenco que traz ainda Faye Dunaway e John Huston, o filme, rotulado com a alcunha de neo-noir, é mais que uma simples homenagem a um gênero cinematográfico: é obra de arte e, como tal, autônoma e independente. Se você nunca assistiu a um noir, não precisa se questionar se irá entender Chinatown. Sim, você irá e, sobretudo, irá senti-lo. Nesse caso, a pergunta mais adequada a fazer é: Você conseguirá esquecer?


Juliana Maués
(comentadora convidada)


Serviço:

Dia 17/09 (quinta)
às 18:30 h
No Teatro do CCBEU
(Padre Eutíquio, 1309)
ENTRADA FRANCA


Realização: CCBEU
Parceria: APJCC
Apoio: Cineclube Amazonas Douro

Mais informações na comunidade do Cine CCBEU no orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=87934260

11.9.09

Em comemoração aos 2 anos do Grupo Fellinianos, Belém recebe de presente a MOSTRA JEAN ROLLIN – “O BRETCH DOS VAMPIROS”


CINE LÍBERO LUXARDO DO CENTUR E APJCC APRESENTAM


SESSÃO MALDITA: MOSTRA JEAN ROLLIN – “O BRETCH DOS VAMPIROS”


DIAS 12 E 26 DE SETEMBRO DE 2009, ÀS 21H30


ENTRADA FRANCA




Mostra Jean Rollin – “O Bretch dos Vampiros”



Serão exibidos dois títulos, em DVD com legenda em português, do cineasta francês Jean Rollin. A mostra em Belém será realizada com a colaboração do crítico Adolfo Gomes e o grupo “Fellinianos”, como comemoração aos dois anos de atividades deste grupo.



Dia 12/09/2009


Lábios de sangue (Lèvres de sang, França, 1975)


Direção: Jean Rollin


Duração: 88 minutos


Legendas em português


Elenco: Jean-Loup Philippe, Annie Belle, Nathalie Perrey e Martine Grimaud


Sinopse: Desde que seu pai morreu, Frederick tem dificuldades em lembrar-se de sua infância. Até que a imagem de um castelo desperta estranhas recordações de um passado obscuro. A partir daí, há uma busca incessante de Frederick para reconstruir esse passado. Considerado um dos filmes mais líricos de Jean Rollin.




Dia 26/09/2009


A prometida de Drácula (La fiancée de Dracula, França, 2002)


Direção: Jean Rollin


Duração: 91 minutos


Legendas em português


Elenco: Cyrille Iste, Jacques Orth, Thomas Smith e Sandrine Thoquet


Sinopse - Penúltimo filme dirigido por Jean Rollin, mostra a busca de um professor pelos descendentes de Drácula. Uma pista acaba levando-o a uma mansão cheia de estranhas freiras, conhecidas como a "Ordem das Virgens Brancas".





Jean Rollin por Adolfo Gomes*



Tudo é recusa no cinema do francês Jean Rollin. Obrigado a fazer fitas pornôs, sob variados pseudônimos (Michel Gentil, Robert Xavier, J. A. Lazer, entre outros), para financiar projetos mais pessoais e, em última instância, sobreviver no mundo nada respeitável ou artístico do cinema, Rollin sempre teve que lidar com os limites impostos pelas condições precárias de produção e preconceitos inerentes ao dito cinema de gênero.


Sem nenhuma reputação a defender – pelo menos junto aos críticos franceses, por que os demais simplesmente o ignoram – ele optou por escancarar as restrições orçamentárias e realizar as mais (aparentemente) apelativas fitas de terror, sobretudo de vampiro(a)s, que poderia imaginar. Seria mais um hábil manipulador de fórmulas, não fosse pelo seu talento em desfazer as amarras que deveriam aprisioná-lo.



Muito já se falou dos cineastas contrabandistas, daqueles que no seio da própria indústria cinematográfica conseguiram consolidar obras autorais. Os críticos franceses do pós-guerra chegaram a edificar uma política (“a política dos autores”) para resgatar o mérito criativo desses realizadores. Mas nenhum deles operou em terreno tão inóspito quanto Rollin. 

Desde os seus primeiros longas-metragens, Rollin lidou com a ira dos próprios fãs de filmes de horror, que não admitiam a “falta de sentido das suas histórias”. Conta a lenda que a sala de exibição que fazia a estréia de “Le Viol du Vampire” (1967) escapou por pouco da depredação completa.


Embora seus filmes ofereçam fartas doses de violência gráfica, mulheres nuas e cenas de sexo, Rollin nunca caiu na graça definitiva dos apreciadores dos filmes de gênero, sobretudo porque tais “medidas comerciais” nada têm a ver com concessão de sua parte. Ao contrário, quando filma a violência gráfica não se esquiva de ressaltar todo o artificialismo da encenação. Nas cenas de sexo ou de nudez, evita qualquer erotismo.


O procedimento é quase científico: quando o sexo é consentido, é puramente descritivo, como numa cartilha de educação sexual, com planos gerais em cenas ao ar livre e big closes em ambientes fechados. Se imposto, o sexo é repugnante. As várias cenas de estupro presentes nos filmes de Rollin estão entre as mais cruéis e terríveis do cinema.


Rollin é uma espécie de Brecht dos vampiros, alguém que está sempre a lembrar o papel do espectador, sempre a chamá-lo à consciência da representação. E fazer tal transgressão dentro do gênero horror, cuja adesão da platéia à narrativa parece ainda mais essencial para o sucesso do “efeito medo” ou “repulsa”, não é a maior ousadia de seus filmes.


A recusa da representação nos trabalhos de Rollin é mais radical. Seus protagonistas falam pouco, não têm expressão e nem versam sobre as suas motivações – ele prefere utilizar, em sua maioria, atores amadores ou saídos das suas produções pornôs.


Também não há qualquer traço de psicologia em seus personagens. Ao contrário, eles parecem surpreendidos a todo instante por eventos sobre os quais não tem o menor controle. Não por caso, estão invariavelmente em fuga e, ao mesmo tempo, presos num instante de vida que não oferece retorno ou redenção.


As tramas dos filmes de Rollin frustram a todo o momento a mitologia do gênero a que se filiam. Em “Requiem pour un Vampire” (1971), por exemplo, o vampiro do título é quase paterno diante de suas pretensas vítimas. Já em “La Morte Vivante” (1982), prevalece a solidão diante do fascínio gerado pela imortalidade.


O misterioso vírus que acomete os personagens de “La Nuit des Traquées” (1980), extraindo-lhes a memória, é outro exemplo de desconstrução do gênero por Rollin. Filmado numa Paris entre a madrugada e o amanhecer, num imponente edifício comercial vazio, o thriller de perseguição que o título sugere converte-se num poema visual entre o grotesco e o sublime, no qual as buscas dos protagonistas são “apagadas” constantemente, rompendo com o desenvolvimento narrativo convencional.


Reserva criativa pouco explorada e vista, o cinema de Rollin é habitado por seres fantásticos assustadoramente parecidos com todos nós.”



*Adolfo Gomes (Hoje reside e organiza mostras de cinema na Bahia. Organizou por muito tempo diversas mostras da cinematografia mundial em nossa cidade, faz parte da ACCPA)



Textos da APJCC acerca de Up - altas aventuras, de Pete Doctor



http://whocouldimagine.blogspot.com/2009/09/o-espirito-de-aventura.html

http://cinemateusmoura.blogspot.com/2009/09/uma-arte-que-sonha-e-que-nos-faz-sonhar.html

10.9.09

O melhor do Cinema político no Cine CCBEU


Cine CCBEU apresenta: "Soy Cuba" de Mikhail Kalatozov



Super produções e filmes politicamente engajados dividem, no cinema contemporâneo, o ranking da mediocridade estética. Segundo seus produtores tal pobreza estilística justifica-se no primeiro caso para atender ao gosto televisivo e infanto-juvenil do espectador médio que procura o cinema para saciar sua fome de espetáculos enlatados; no segundo, o argumento é que a nobre causa deve ser abordada sem "firulas" (leia-se liberdade criativa) em respeito à "realidade" da triste vida do homem comum. Em ambos os casos os resultados são pífios, apáticos, são filmes nati-mortos que encerram discursos.
Esta cruel realidade é confirmada quando, no início de nossa década, Martin Scorsese e Fracis Ford Coppola descobrem uma produção russo-cubana engavetada por mais de 30 anos. "Soy Cuba" de Mikhail Kalatozov é um filme maldito porque seu autor cometeu a ousadia de aliar grande orçamento, panfleto político e (tremei companheiros!) vigor estilístico. O estilo no filme - uma releitura amplificada do barroco de Orson Welles - foi considerado ideologicamente nocivo por autoridades comunistas que cobravam da arte cinematográfica a função de propaganda eleitoral.
"Soy Cuba" é um filme-pássaro. No seu vôo inventa a dura realidade da ilha pré-revolucionária para dizer exatamente como ela era. Sua (re)descoberta deeixa lições para todos aqueles que amam o Cinema e a luta política: o cinema político-criativo é possível e necessário, a pobreza ou riqueza da produção nunca justificará o acovardamento estético e não existe abismo entre as realidades sociais e as irrealidades poéticas.
"Soy Cuba" nos convoca para esta luta. Sem perder a ternura jamais.


Miguel Haoni
(APJCC - 2009)


Serviço:
Dia 10/09 (quinta)
às 18:30 h
No Teatro do CCBEU
(Padre Eutíquio, 1309)
ENTRADA FRANCA


Realização: CCBEU
Parceria: APJCC
Apoio: Cineclube Amazonas Douro


Programação completa de setembro na comunidade do Cine CCBEU:

1.9.09

Comemorando o aniversário de 2 anos de criação o Cine UEPa apresenta sessão especial em homenagem à John Hughes

Cine Uepa apresenta: (Homenagem à John Hughes)


Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller’s Day Off). John Hughes. 1986. Metrocolor. Panavision. 103’.



John Hughes era um homem apaixonado pela liberdade. Era também um homem radical: para ele a verdadeira liberdade só era possível na juventude, afinal "quando você envelhece seu coração morre". Curtindo a Vida Adoidado é mais que um clássico de sessão da tarde, é mais do que um filme divertido com aquela música bacana dos Beatles na trilha sonora. O dia em que Ferris Bueller mata aula é o grito de um artista que tinha uma mente fervilhante e sabia traduzir tanta ânsia de ser livre em imagens tão lindas e inesquecíveis que são capazes de ressuscitar até o mais morto dos corações.


Felipe Cruz - APJCC.



“SAVE FERRIS!”. Qual adolescente nascido nos 80 não pichou sua carteira escolar com os dizeres libertários? Só quem não assistia a sessão da tarde! (Quem não assistia sessão da tarde?). Ao som de Twist and shout a gente pulava, gritava, sorria, se emocionava, se encantava...E depois que crescemos? Quando envelhecemos o nosso coração morre mesmo?
O medo de rever o clássico que trouxe tantas alegrias no passado era o de transformar um sentimento nostálgico num prazer culpado (guilty pleasure). Seria enfim o sepultamento da inocência? Rever “Curtindo a vida adoidado” seria enfim descobrir que o prazer que sentimos se devia à empolgação da época e não à qualidade do filme?
Milagrosamente, descobrimos outro filme! Não o filme dublado entre intervalos e em full screen que vimos na nossa tv, mas um filme que em si – por exemplo - é uma ode ao cinemascope! Os personagens – todos – mais que encantadores se revelaram símbolos de uma era; sem falar no ritmo, nas cores, na mise-en-scene, na decupagem... enfim, nos vimos obrigado a mudar de slogan: “SAVE HUGHES” – as carteiras da UEPa que nos perdoem...
Revendo a obra de John Hughes descobrimos que, além de ser um dos maiores cineastas de todos os tempos (sendo o maior no gênero que abraçou), este homem sensível e extremamente corajoso, nos legou uma obra-prima sobre a arte de amar a liberdade, que merece ser respeitada como tal. Vos convoco crianças, adolescentes e adultos: não percam seu tempo enfurnados nas salas aprendendo a obedecer para mandar mais tarde... venham assistir “Ferris Bueller’s Day Off”... pois as grandes obras de arte do nosso século não se encontram mais nos museus, mas nos cineclubes.
SAVE HUGHES! Descanse em paz (ou como quiser).

Mateus Moura - APJCC.

SERVIÇO:
Local: CCSE/UEPA – Sala de recitais – Bloco IV (Djalma Dutra s/n)
Data: 08/09/09 (terça-feira)
Hora: 18:30
Entrada franca!

AÇÃO: APJCC (ASSOCIAÇÃO PARAENSE DE JOVENS CRÍTICOS DE CINEMA)
BLOG: http://apjcc.blog.terra.com.br/
COMUNIDADE:  http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=37014176

O mês de setembro traz convidados especiais ao Cine CCBEU

Cine CCBEU: Programação de setembro



03/09 - "Memórias de um Assassino" de Bong Joon-Ho

Comentários: Prof° Décio Guzman (UFPA)


10/09 - "Soy Cuba" de Mikhail Kalatozov


17/09 - "Chinatown" de Roman Polanski

Comentários: Juliana Maués


24/09 - "Underground" de Emir Kusturica


Serviço:

Toda quinta

às 18:30

no Cine-teatro do CCBEU

(Padre Eutíquio, 1309)

ENTRADA FRANCA


Realização: CCBEU
Parceria: APJCC


Sinopse de "Memórias de um Assassino":



(Salinui Chueok, Coréia do Sul, 2003)

Direção: Joon-Ho Bong
Elenco: Kang-Ho Song, Sang-Kyun Kim, Roe-Ha Kim, Jae-Ho Song
Duração: 130 min.



Do
mesmo diretor de “O Hospedeiro” (Gwoemul, 2006), o filme inspira-se em
caso real. Entre 1986 e 1991, quando a Coréia do Sul era governada por
uma ditadura militar e a população vivia sob lei marcial, com toques de
sirenes que obrigavam os habitantes das cidades a se recolherem às suas
casas, uma pequena cidade rural coreana da província de Gyunggi
enfrentou a ameaça de um serial-killer de mulheres. Memórias de um
Assassino dramatiza os acontecimentos da época, enfocando os esforços
ineficazes e atrapalhados da polícia local para tentar capturar o
maníaco utilizando-se de métodos violentos.



Mais informações na comunidade do Cine CCBEU no orkut: