20.9.09

Todos dizem eu te amo...



Se me contassem não acreditaria, chega a ser inverossímil a patética luta do casal 20 do cinema paraense na proteção da sua falsa lenda. No seu último artigo (“Chamem chapeuzinho vermelho!”), Pedro Veriano responde as críticas feitas por Francisco Weyl (no texto “Nem lobo nem chapeuzinho, a culpa é dos narradores”), botando no mesmo saco o que ele chama de “jovens críticos”. Fazendo a citação já manjada em seus textos da frase de Lampedusa e as metáforas nada funcionais sobre a esperança e o amor, o nosso mais antigo amante de cinema fala muito para não dizer nada, enquanto Luzia escreve o segundo texto sobre Up recontando (em palavras) a estória que todos já viram (em imagens).
Me interessei bastante pelos textos do Veriano quando ele reclama da forma como os poderes públicos tratam o cinema e a cultura na cidade, sua indignação e sua contribuição na discussão de um problema cultural público me emociona, admito que pela primeira vez “ponho fé” no Dr. Pedro. Pena que ele se faça de surdo, mudo e cego para várias questões. Quando ele diz que “sinceramente eu gostaria de ver os reclamantes de hoje à testa dos projetos de produção e exibição cinematográfica regional” ele só lê a coluna da sua mulher (Luzia Miranda Alvares) e do seu companheiro da Troppo (Marco Antonio Moreira); se fosse nos quadradinhos veria que toda semana tem duas programações (no CCBEU e na Aliança), que na Marambaia e na Campina exibem filmes locais, que de 15 em 15 dias um filme maldito é exibido no Líbero, que um ano atrás haviam períodos que existia uma programação de 4 filmes por semana, gratuita e com debate e ensaio crítico escrito distribuído no fim. Se “os críticos dos críticos” não ganharam um espaço foi apenas o que os “velhos críticos” embargam, e, pior, cantam, de cara dura, que divulgam e apóiam as atividades cineclubistas locais.
“O problema das exibições alternativas existia” em 2007, quando a famigerada APCC, do alto do seu trono, fazia listas no fim do ano e era convidada para falar de cinema e do seu heroísmo enquanto a cidade estava entregue ao moviecom. Em 2007, na criação do Cine UEPa, os contatos com o Dr. Pedro e a Dona Luzia foram feitos, o apoio foi pedido, convites foram propostos, Mosqueiro na sexta era sagrado, o cinema e o cineclubismo podiam esperar (entretanto em programações de universidade no Líbero no mesmo horário, um jeito se dava). Não é uma questão de rancor ou “choramingação”, mas de fatos. Ninguém parou, todo mundo foi sozinho, construiu sem ajuda de ninguém, e com certeza foi melhor assim. O chato é ficar ouvindo papo-furado, o chato é ficar vendo as falsas-lendas dizendo que divulgam, que fazem crítica, que defendem o cinema, que são bons e educados. A verdade é que o cinema no Pará estava morrendo pelas falsas lendas... estava.
E se é pra fazer um parágrafo dizendo o que é amar cinema, digo com negações entre parênteses: Amar cinema é querer ver o filme em seu formato completo (não exibir um filme com 20% da tela fora como é feito no IAP e nem se tocar), amar cinema é pensar e, quando ter a oportunidade, falar de cinema (não assistir Rebecca e falar de feminismo, ou No tempo das diligências e falar de racismo), amar cinema não é ser “cult”, nem “cinemaníaco”, mas pelo menos ter visto e saber do que se trata o filme que decidiu exibir (não dizer que Cat people é um clássico do cinema francês e recomendar fingindo que é um guru cinematográfico), amar cinema é escrever sobre cinema (não reescrever o enredo do filme e dar estrelas de qualidade)...
Amar cinema não consiste apenas em escrever que ama cinema.

p.s: Se só o Lobo sabe mexer nos equipamentos do Centur e foram contratados, via concurso público, senhores que não dominam a técnica do equipamento que lidam, a culpa só pode ser do processo. Se se contrata um técnico, ou lhe é cobrado o pré-requisito de dominar a mecânica do serviço, ou - se se contrata o homem sem técnica - o empregador providencia a capacitação.
p.s2:se os textos acerca dessas questões estão sendo publicados na coluna 'Panorama' do jornal 'O Liberal', peço que este componha a discussão.
p.s3: link do texto de Pedro Veriano que este, de certa forma, responde: http://www.blogdaluzia.com/2009/09/chamem-chapeuzinho-vermelho.html

Mateus Moura (APJCC – 2009).

2 comentários:

Marcos Vieira disse...

Mateus, concordo em partes com teu texto. Realmente dá pra perceber que a ACCPA ignora tudo o que a APJCC faz, e que Belém sabe que quando vocês começaram as ações, a cidade estava entregue às moscas. Mas cuidado com as palavras. Sorte no trabalho.

cinemateus disse...

Pode crer Marcos, me mande um e-mail (mateus_hc@hotmail.com) sobre as tuas discordâncias, ou responde por aqui mesmo se se sentir confortável. Quanto o cuidado com as palavras dá uma lida no texto que eu responde que adicionei como link no "p.s3". Obrigado pela contribuição e cuidade. Abraços.