26.10.09

Cinema de verdade

basterds4


Rodrigo Cruz (APJCC-2009)


Já ouvi um monte de bobagens sobre “Bastardos Inglórios”. É natural. Já ouvi bobagens sobre todos os filmes de Quentin Tarantino. E elas são sempre as mesmas. Acusam seus filmes de serem pastiches sem nenhuma originalidade. Dizem que suas obras se sustentam em diálogos (intermináveis). Dizem que os planos são longos e cansativos. Que suas referências são repetitivas e previsíveis. Que sua experiência estética é vazia. Que seus filmes são de uma “masturbação intelectual” nauseante. Tudo blá blá blá de quem não sabe o que é cinema. Aos que sabem, alegrai-vos: “Bastardos Inglórios” é cinema. E cinema de verdade.


Quem não reconhece a beleza da seqüência inicial de “Bastardos Inglórios” é porque nunca viu um Sérgio Leone na vida. Quem não vibra com a agilidade da câmera de Tarantino é porque não conhece o vigor de um Godard. Quem não morre de rir de suas piadas insanas é porque não conhece Lubitsch. Mas, sobretudo, quem não pula da cadeira, pelo menos uma vez, nas quase três horas de filme, é porque não conhece o próprio Tarantino; esse filho da puta genial que, porra, não pretende inovar, só quer fazer cinema de verdade – e faz. E, para apreciar “Bastardos Inglórios”, nem é preciso saber quem é Sérgio Leone, Godard ou Lubitsch. Tarantino faz cinema para todos. E, acima de tudo, faz um trabalho com luz própria. Ele não é um parasita. Ele não sai por aí colando referências. Ele tem autonomia. Autonomia até para mudar os rumos da História.


Ainda assim, os desavisados dirão bobagens sem sentido sobre “Bastardos Inglórios”. Dirão, inclusive, que Tarantino nunca estará entre os grandes. Inútil, meus caros. Ele já está. E qualquer coisa que possa ser dita, inclusive esse texto, é pouco para tentar explicar o maior filme deste início de século. Tudo bem. Quentin Tarantino não está nem aí para o que dirão sobre ele. Como o bom filho da puta que é, deve estar sorrindo tranqüilo em algum lugar, com a certeza de ter feito uma obra-prima (e ele sabia muito bem que  o estava fazendo, como faz questão de elucidar Aldo Raine na cena final). Em tempo, cinéfilos: Quentin Tarantino explodiu (literalmente) o cinema. Agora sim, a festa pode começar. As portas estão abertas. E que venham os próximos grandes filmes do nosso século!

4 comentários:

Antonio disse...

Me deu mais vontade de assistir ao filme!!!!

paraguaia disse...

foda!!!

geo disse...

só percebi o nível de tensão em que me meti, quando sai da sessão do filme e vi todas as minhas unhas ruídas no talo. me peguei pensando que o tarantino curte criar umas vinganças, ou o que é o final de deathproof? ou ainda a dolorida cena final de reservoir dogs que revi esses dias? esta, no entanto, foi a mais emblemática de todas. pensar em matar os caras no cinema me fez lembrar daquela resposta do joaquim pedro de andrade que a adriana calcanhoto musicou sobre "por que você faz cinema": para insultar os arrogantes e poderosos quando ficam como "cachorros dentro d'água" no escuro do cinema.

falei demais.
té!

Felipe Cruz disse...

Que bom que participei da festa de Tarantino.

É isso cara, ele vai permanecer e foda-se.