Mateus Moura (APJCC-2009)
Escalpelado, brutalmente escalpelado; quem ama cinema perde a cabeça, perde a razão - é queimado nas chamas da experiência audio-visual. A razão volta mais tarde, as palavras voltam a fazer sentido, e a sintaxe confusa do pensamento balbucia: "-É, acho que essa é a obra-prima desse filho da puta!". Aldo Raine concorda.
Falar que Quentin Tarantino é o maior cineasta do nosso tempo se tornou pouco, depois de Inglourious Basterds, Fuller, Leone, Hawks, Fulci podem abrir a porta da casa que Godard falou um dia, Tarantino está entre os grandes, não há sombra de dúvida.
Falar que Quentin Tarantino é um dos maiores cineastas de todos os tempos também parece pouco; depois de ver/ouvir a estória ambientada miticamente na histórica 2ª Guerra Mundial, acreditamos poder contemplar em primeira mão um dos maiores narradores em plena atividade, refinando-se rigorosamente.
Porra, falar do filme?! Talvez com os amigos durante uma noite toda - aos berros! Talvez produzindo um ensaio durante uma semana toda - revendo e relendo!
O que acontece é que o que Quentin Tarantino faz é um cinema que já existe. Como Ronaldo Passarinho falou de Michael Mann acerca de Inimigos Públicos, é "cinema de novo", não cinema novo. Tomar a História do Cinema como Mito e não a História Literária como Ciência é ensinamento de Sergio Leone, de Jean-Pierre Melville, de Jean-Luc Godard. Contar sua estória se valendo de emoção, com a câmera e a banda sonora em ação negritando a narrativa cinematográfica é lição de Fuller e todos os grandes cineastas americanos. Ir além do "bom gosto" e ultrapassar a barreira para atingir os extremos é lição de Fulci e todos os grandes cineastas malditos. O fato é que Tarantino é um virtuose da sua ferramenta, um pensador moral do seu tempo, um iconoclasta anarquista e um artista extremamente sensível.
Um pianista tem seu instrumento e 7 notas para criar uma música, as combinações são infinitas. Um escultor tem um material sólido, um martelo, algo que ele bata com o martelo, as formas são infinitas. O cineasta tem um arma chamada película e - meu deus! - o que se pode fazer com ela...
p.s: os judeus podem dormir um pouco mais em paz, porque além de ser um faroeste, um filme de guerra (sub-gênero missão), uma comédia de humor negro, é um filme de Vingança. Aquela vingança que não pode se ler nas páginas de História, poderá ser vista por centenas de anos nas imagens do Mito.
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