Inovacine/IPHAN apresenta
A Margem. Ozualdo Candeias. 1967. p/b.
“A margem foi o seguinte: eu inventei a porra da história a partir de umas coisas que eu tinha lido num jornal – que eu também leio jornais –, daí eu cato essas coisas e enfio na história.” (Ozualdo Candeias)
O que seria um “cinema marginal”? Algo que está à margem é algo que, não podendo seguir a correnteza, resta. Resta por opção ou pelos espinhos da estrada? Por condição ou sobrevivência? Fazer cinema, para um cara chamado Ozualdo Candeias, era simplesmente um ato poético e necessário, um trampo da alma. As suas condições eram as mais precárias possíveis, e é desse limite que nasce a sua liberdade: a responsabilidade de assumir esteticamente a condição de existência à margem, e se expressar cinematograficamente.
O que seria o “cinema marginal”? Produtos audiovisuais surgidos na Boca do Lixo em São Paulo, que inclui tanto filmes experimentais de cineastas como Sganzerla, Bressane e Reichembach até pornochanchadas de apelo notadamente meramente comercial. Candeias, denominado por Jairo Ferreira “marginal dos marginais”, é, na verdade, não o “pai dos marginais” (título concedido mais ao Mojica), mas um filho sem pai, um marginal dos marginais mesmo, um objeto não-identificado, um solitário, um anjo do arrabalde.
“A Margem”, seu primeiro filme, lançado em 67, trata dos “marginais” de forma existencial. Atravessando o discurso afinado da elite intelectual burguesa cinemanovista espetacularizadora da fome, Candeias não procura legitimar sociologicamente as brutas imagens que explodem na tela. Elas simplesmente são o que são: fruto de uma busca humilde e digna de um cinepoeta por seu estilo; subjaz no contexto estético os quilos da realidade vivida, que não pesam mais que a mão de uma criança abandonada, o olhar de uma prostituta sem perspectiva e o franzido cenho de um trabalhador explorado. Como disse Inácio Araújo, “não é filme sobre os marginais, mas entre eles, com eles”.
Ruy Gardnier afirma que “Candeias, é, mais que tudo, um ‘cineasta de sobrevivência’”. Concordo. Fazia a câmera, fotografia, roteiro, montagem; respirava cinema para não morrer, sob o signo de escorpião.
Há mais coisas entre Glauber e Meirelles do que sonha a nossa vã ignorância enquanto público de cinema brasileiro (e falo aqui do brasileiro que assiste cinema!). Conhecer Candeias é tão essencial quanto conhecer Vigo, Buñuel, Jesus Franco, Jean Rollin, e tantos outros poetas do cinema “pobre”. Contra todas as convenções inúteis se insurge o cinema dos vagabundos que por aí vanguardeiam, os que por ele são tocados eu convoco para prestigiar a sessão: lá, um dos notáveis desconhecidos se apresentará em suspiro poético audiovisual. Essa sessão é dedicada não aos que escolhem o cinema, mas aos que por ele são escolhidos.
Mateus Moura (APJCC – 2010)
Serviço:
1º de dezembro (quarta)
às 18h30
No auditório do IPHAN - Tv. Rui Barbosa, esquina da Av. Governador José Malcher
ENTRADA FRANCA
Realização: INOVACINE
Apoio: IPHAN
Informações: (91) 8717-5666
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