O LIBERAL Belém, sexta-feira, 27 de junho de 2008
PANORAMA
Luzia Miranda Álvares
"Já está na rede o blog dos críticos cinematográficos locais. O acesso é feito através do endereço: http://accpara.blogstpot.com/ "
enquanto isso...
2. Cinema na Casa apresenta: Ciclo Samuel Fuller: Cinema que Fere!
Samuel Fuller nasceu em 12 de agosto de 1912, em Massachustes, EUA, e morreu em 30 de outubro de 1997. Depois de entrar na imprensa criminal, foi soldado e participou de dois desembarques em tropas de choque do exército americano. ‘Lutador’, homem de ação e de sentimentos, debutou no cinema com a obra “Matei Jesse James”, uma visão cínica e mordaz sobre o assassino de Jesse James, Bob Ford. Nesta obra, somos apresentados a um dos grandes pilares de sua filmografia: ‘o amor que se transforma em violência’. Sua carreira é pautada nos famosos filmes de gênero: policial, guerra e faroeste. Acusado de comunista, anarquista, direitista, fascista e belicista, por jornalistas e críticos, Fuller não se deixava abater em seu “campo de batalha”. Legou-nos 25 obras ao longo de sua carreira. Entre elas estão as obras-primas “Beijo Amargo” (1964), visão cínica de uma cidadezinha hipócrita, e que serviu de base para “Twin Peaks”, famosa obra do diretor David Lynch, “Paixões que Alucinam” (1963), que narra a aventura de um jornalista, que finge ser louco para investigar um crime no manicômio, “Dragões da Violência” (1957), western feminista e radical, que quebra os cânones do gênero. Mudou-se para Europa, no fim dos anos 60, em função das dificuldades que Hollywood passava. Na Alemanha filma episódios para a TV e “Em Ritmo de Assassinato” (1974), thriller que tem a famosa Beethovenstrasse como cenário principal, e que os alemães acharam desrespeitoso para com o país. Após um período difícil fora da América, Fuller daria ao público mais duas obras-primas, o filme de guerra “Agonia e Glória”, filme com nuances autobiográficos, e o famoso e maldito “Cão Branco” (1982), filme apedrejado pela critica em sua época, que conta a história de um cão treinado somente para atacar pessoas negras. E é em cima de cinco dentre essas sete obras que o “Cinema na Casa” celebrará um dos maiores realizadores da sétima-arte. Samuel Fuller é o cinema ‘humor-negro’, seus fotogramas são ao mesmo tempo ousados e quietos. Privilegia a montagem com cortes secos e sua câmera invasora ensina o olhar cinematográfico. Influenciou diversos cineastas, de Jean-Luc Godard a Jim Jarmusch, de Martin Scorsese a Quentin Tarantino. Scorsese gritou ao mundo: “apreciar um filme de Fuller é ser sensível ao cinema, na sua própria essência: o movimento como emoção”.
Aerton Martins
(Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema - APJCC)
Matei Jesse James.Dir: Samuel Fuller.Eua. 1949. 81min.
01/07/08 às 18:30 Auditório da Casa da Linguagem (av. Nazaré, 31)
Após matar à traição seu amigo, o famoso fora-da-lei Jesse James, Bob Ford é consumido pela culpa e tenta recuperar sua humanidade através do amor por uma garota.
mais informações: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=46934585
3. Sessão Maldita apresenta:
CINE LÍBERO LUXARDO (CENTUR)
SESSÃO MALDITA: PIERROT LE FOU
DIA 05 DE JULHO, SÁBADO, ÀS 21h30
ENTRADA FRANCA
“PIERROT LE FOU” DE JEAN-LUC GODARD
França. 1965. Cor. 110min.
Elenco: Jean-Paul Belmondo, Anna Karina, Dirk Sanders, Raymond Devos, Samuel Fuller.
SINOPSE
Jean Paul Belmondo vive ‘Ferdinand’ (Pierrot), um professor de espanhol que vive com uma mulher italiana. Ana Karina interpreta Marianne, uma bela moça que vai à casa de ‘Pierrot’ a fim de tomar conta de seus filhos, enquanto o casal se delicia em uma festa burguesa na casa de amigos. Pierrot ao voltar para casa decide, junto com Marianne, fugir em busca de uma aventura. Buscam situações que a sociedade não pode lhes oferecer. Uma sublime jornada magistralmente dirigida pelo mestre Jean-luc Godard.
NOTAS GERAIS
Jean-luc Godard é um dos grandes pilares do cinema francês e de toda a história desta grande arte. Quando David Wark Griffith empunhou sua câmera, na primeira obra adulta do cinema, “Nascimento de Uma Nação”, em 1915, nascia ali uma arte genuína, que defendia sua linguagem, suas unidades e sua autonomia. Os irmãos Lumière deram ao mundo a máquina foto-reprodutora da realidade, mas foi o corajoso cineasta americano que desbravou o até então ‘filho’ do teatro e o elevou a condição de arte. Após 45 anos do amadurecimento do cinema, na França, uma turma sorvia todos os gens da filmografia americana, e também percorriam diversos caminhos por quais diretores autorais deixavam suas marcas, de diferentes nacionalidades - Dinamarca, Itália, Japão, União Soviética - mas que tinham uma coisa em comum: ‘o respeito e fidelidade para com o cinema’. Nascia as páginas amarelas da famosa e sublime “Cahiers Du Cinema”, que depois deu como fruto uma grande turma denominada por jornalistas de “Nouvelle Vague”. E nesse terreno múltiplo, estava Jean-luc Godard, junto com seus confrades de ‘trabalho’: Jacques Rivette, François Truffaut, Claude Chabrol e outros sonhadores. “Acossado”, o primeiro longa de Godard, nasceu em 1959, de um roteiro que Truffaut havia feito sobre um fato real. A obra mistura elementos de detetive, comédia e suspense, só que de um modo sincopado demais para os padrões da época. A barreira havia sido quebrada. A impressão Godardiana sobre os fatos não só do mundo, mas também, do cinema, estaria lançada. “Pierrot Le Fou”, 1965, é uma obra visceral, anárquica, experimental e carrega todos os emblemas que o diretor franco-suíço pregou em suas obras anteriores. Em “Pierrot Le Fou” temos o tom de liberdade anarquista, que fica difícil enxergar outro paralelo dentro da turma da “Nouvelle Vague”.
O autor de “Viver a Vida” nos presenteia com um sublime jogo de signos. Seu cinema levanta a questão do cinema, seus filmes falam sobre filmes. “Pierrot Le Fou” respira arte e propõe que o cinema pode andar de mãos dadas com as demais artes - pintura, literatura, quadrinhos, poesia visual - sem que estas clamem por alguma soberania. “Pierrot Le Fou” é uma obra de diálogos imagéticos e que lança o olhar de interrupção que norteia todo fragmento da narrativa ‘destruída’ - esta sim, de tom mais abrupto, pois Godard não tinha roteiro, tudo foi feito em função de um fluxo de linhas, “mal” riscadas, que o diretor tinha em seu caderno - e caminha perfeitamente com o embate de eixos: cinema de vanguarda e cinema clássico, cultura pop e cultura erudita, Samuel Fuller e Velasquez, vida e cinema, um não anda sem o outro e tudo é permitido no campo de batalhas de “Pierrot Le Fou”. Jean-Luc Godard disse certa vez: “Houve um tempo em que talvez o cinema podia melhorar a sociedade, esse tempo se perdeu”. Com meia dúzia de travellings sublimes, planos expressivos, diálogos, luzes filtradas cheias de cor, Godard deixa escapar, que em “Pierrot Le Fou”, esse tempo é sentido.
AERTON MARTINS – APJCC.
Um comentário:
Olá,
Uma boa dica: é possível se assistir a Sympathy for the the Devil, do Godard, no cinema e outros clássicos através da ótima iniciativa da Moviemobz. Para isso basta apenas se mobilizar.
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Um abraço.
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