1.5.08

Ações da APJCC em Maio (parte 2)

2. SESSÃO MALDITA: A MONTANHA SAGRADA, ALEJANDRO JODOROWSKY
DIA 03 DE MAIO, SÁBADO, ÀS 21:30 H.
CINE LÍBERO LUXARDO (CENTUR)
ENTRADA FRANCA
CURADORIA: APJCC



A MONTANHA SAGRADA,ALEJANDRO JODOROWSKY
(The Holy Mountain, EUA, 1973, Cor, 114 mim.)



Elenco: Alejandro Jodorowsky,Hector Salinas, Ramona Saunders, Juan Ferrara, Adriana Page, Burt Kleiner,Valerie Jodorowsky, Nicky Nichols, Richard Rutowsky, Luis Lomeli, Ana De Sade,Chucho-Chucho, Letícia Robles, Connie De La Mora, David Kapralik.


Sinopse: A Montanha Sagrada é a busca alquímica pela imortalidade de um grupo de nove mortais, liderados pelo próprio Alejandro Jodorowski, como alquimista. Essa busca inicia-se com Ladrão, cuja figura faz referência a Jesus Cristo, e que antes de juntar-se ao grupo dos nove, vaga pelo México passando por várias situações surreais e místicas.


Nota sobre o Diretor



Alejandro Jodorowsky nasceu no Chile, em Iquique, localizada na região de Tarapacá, em 7 de fevereiro de 1929. Descendentes de russos ucranianos, Jodorowsky é dentre outras coisas diretor de cinema e teatro, roteirista, ator, produtor, compositor, escritor, autor teatral, filósofo, humorista, tarólogo, espiritualista e mestre dos quadrinhos, um dos criadores do “Teatro do Pânico”, junto com Roland Topor e Fernando Arrabal, em 1962, que era um grupo multimídia, que homenageava o deus grego Pã. Jodorowsky, em 1969, com o seu filme El Topo, foi um dos que iniciaram o movimento “Midnight Movies” (ou “filmes da meia-noite”), que se constituiu em um conjunto de filmes exibidos fora do circuito exibidor comercial, ou seja, à meia-noite, produzidos entre o final dos anos 60 e o final dos 70, que estavam à margem da indústria cinematográfica norte-americana.

No conjunto de sua obra cinematográfica, Jodorowsky, apresenta-nos um universo bem particular sob um simbolismo mítico, numa mistura de elementos pagãos, judaicos e cristãos, principalmente, que podem está explícitos ou não, além de elementos tradicionais da cultura latino-americana, fermentado, ainda, pela crítica ao consumismo da sociedade capitalista. Lançado em 1973 na mostra não-competitiva do Festival de Cannes, A "Montanha Sagrada" fornecê-nos este universo impregnado de simbolismo. As cenas não parecem conectadas, assim como a narrativa não obedece à tradição clássica. Vemos, portanto, um mundo plural que, tem sua própria lógica de existência, dentro dos padrões jodorowskianos. O real e o ilusório, em Jodorowski, não são forças opostas, mas complementares; a realidade, deste modo, está moldada também na ilusão, e esta deve ser desmascarada; como exemplo, temos no filme em questão, a cena em que Ladrão é embebedado por uma freira e soldados romanos, que em seguida utilizando-se de seu inconsciente, fazem várias cópias de seu corpo para vendê-las como imagens de Cristo. E o próprio Ladrão, desde o início do filme, é uma personificação de Cristo em uma Via Crucis no centro histórico do México, que, por sua vez, torna-se palco de cenas inesquecíveis, como a do “Grande Circo dos Sapos e Camaleões”, que ensaia a conquista do México por espanhóis, sendo que os camaleões são os ameríndios e os sapos são soldados espanhóis e padres de ordens religiosas católica, que chegam em caravelas para exterminarem aqueles. O filme, que dispomos, mesmo com toda a sua linguagem surreal, mostra-nos cenas bizarras, esquisitas, mas nem por isso menos belas, como a morte de pessoas por soldados no centro da cidade, sendo que o que sai do corpo das pessoas, em vez de sangue, são pássaros.

Podemos classificar a obra de Jodorowsky, também, como uma crítica a tudo o que acreditamos e aceitamos, ele nos desilude, através das imagens e, através, de um senso de humor crítico a tudo o que nos cerca, nos faz rir de nossas próprias crenças, passadas como obras da ilusão, e a religião é uma delas. A realidade é ilusória. Assim, a busca pela imortalidade em a “Montanha...”, é uma descoberta de nossas ilusões, e devemos rompê-las. O universo de Jodorowsky, portanto, nos é peculiar, mesmo perante o absurdo das imagens, e das indagações que elas representam.

Fábia Martins – APJCC

Um comentário:

Miguel Haoni disse...

Toda vez que entramos em contato com uma nova linguagem, sempre realizamos inconscientemente um processo de associação com as informações que possuímos.A comparação, quase sempre é inevitável e isso em muitos casos acaba limitando a nossa leitura de determinado objeto.
Quando comecei a assistir A Montanha Sagrada, todas as referências pesaram sobre meus ombros: Buñuel, Fellini, Pasolini, Castañeda, Raul Seixas,Paulo Coelho...Todos esses artistas se relacionavam com a coisa que acontecia diante dos meus olhos.Mas logo vi que ali, naquele suposto coro, havia uma só voz.A de Jodorowsky.
Sujeito perverso, iconoclasta, corajoso e inteligentíssimo como todos os heróis do cinema.
Ele alia de maneira grotescamente sublime, política e misticismo (as duas bases da organização social do homem primitivo e pós-moderno)num jogo cênico em que o humor e a agressividade conduzem o passo de uma América Latina estigmatizada pela Via Crucis das ditaduras militares.

Obrigado Aerton Martins, pela escolha do título e obrigado principalmente ao público que provou que o cinema é mais importante.