15.10.11

APJCC leva cinema paraense a Curitiba

A Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema (APJCC) e a Cinemateca de Curitiba promovem nos dias 29 e 30 de outubro (sábado e domingo) uma ação arte-educativa de cunho cineclubista na capital paranaense O projeto de intercâmbio cultural visa à troca de olhares e experiências na fruição crítica de obras cinematográficas através da 2° Mostra APJCC de Cinema Paraense, na qual diversas produções amazônicas serão exibidas e debatidas.

Além de viabilizar o acesso democrático a um capítulo importante e ignorado do audiovisual artístico nacional, a atividade permite o aprofundamento crítico e reflexivo sobre as funções estéticas e políticas da prática cineclubista. O movimento cineclubista brasileiro é um dos mais expressivos dentro do contexto internacional, seja através das políticas públicas de incentivo e da histórica militância da crítica independente. Entretanto, o problema de comunicação e integração destas práticas é patente, espelho de uma “cultura nacional” centralizada, que desconhece a dimensão da cena no país. Pequenas iniciativas, como o intercâmbio firmado entre APJCC e a Cinemateca, mostram que a possibilidade de trocas de perspectivas é simples e imprescindível para o fortalecimento do cinema e do cineclubismo brasileiro.

2° Mostra APJCC de Cinema Paraense

Curadoria: Miguel Haoni e Cauby Monteiro (Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema)
Período: 29 e 30 de outubro (sábado e domingo)
Às 18 e 20 horas
Local: Cinemateca de Curitiba
Rua Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco
ENTRADA FRANCA

Informações: (41) 3321-3252 - (41) 3321-3270
Realização: APJCC e Cinemateca de Curitiba
Apoio: Centro Acadêmico Zé do Caixão

A mostra oferece, em três sessões, uma fatia do que de mais interessante se produziu no Estado do Pará nos últimos anos em matéria de cinema.


Programação:

Dia 29/10 (sábado)
18h: Palestra: Cinema e cineclubismo na Amazônia: desafios e perspectivas
20h: Exibição seguida de debate dos curtas:

1. “Açaí com Jabá”, de Alan Rodrigues, Marcos Daibes e Walério Duarte (13 min)
Um duelo entre um paraense e um turista para ver quem consegue tomar mais açaí com jabá. Baseado nesse costume do homem da Amazônia.






2. “Puzzle, de Marcelo Marat (12 min.)
Vídeo baseado no livro de contos do ator, diretor de teatro e escritor Saulo Sisnando: "A idéia da adaptação veio de Brenda Oliveira, atriz de Conto de Sangue, outra produção da Abuso. No projeto original seriam feitos quatro vídeos, mas os inevitáveis problemas durante a produção iniciada em outubro de 2009) me fizeram mudar para um só, com inspiração óbvia nos filmes de David Lynch".

3. “Quero Ser Anjo”, de Marta Nassar: (14 min.)
O filme conta a história de desejo, traição e revolta, tendo como pano de fundo a procissão do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, uma das maiores festas religiosas do Brasil e do mundo.

4. “Os Comparsas”, de Marcio Barradas (16 min.)
O cineasta alemão Fritz Lang apresentou, no conjunto de sua obra, uma idéia particular: em determinado momento a realidade sempre consegue ser pior que o pior dos pesadelos. Ele também dizia que num mundo sem Deus, a única forma de atingir o cognitivo das platéias era através da dor física. E esta era sempre resultado da violência.
Inspirado pelos mesmos princípios, o cineasta paraense Marcio Barradas destila este "Os Comparsas", mais novo capítulo de seu "Ciclo mosqueirense", também composto por "A Poeta da Praia", "O Mastro de São Caralho" e "O Filho de Xangô".
Adaptado da história em quadrinhos do alemão Matthias Schultheiss (que por sua vez é a releitura do conto "Os Assassinos" do também alemão Charles Bukowski), "Os Comparsas" encontra suas raízes germânicas ao compor sua plasticidade sobre o conflito luz x sombra, tão caro à vanguarda expressionista dos anos 20.
O protagonista Pedro, por exemplo (interpretado pelo econômico e expressivo Solano Costa), atua como um oficial reformado da República de Weimar. Apesar do deslocamento descompassado, nunca senta de costas para a porta, nem deixa uma dama acender o próprio cigarro em público.
A gratuidade da violência, um dos aspectos mais reais da condição humana, surge no filme como o cruzamento estéril do humor negro na arte exploitation e a vulgaridade das páginas policiais. Tudo alinhado sob o rigoroso olhar da câmera.
Os planos fixos e os cortes rápidos dão a sensação de correr com os olhos as amareladas folhas dos quadrinhos pulp, nos quais o filme se inspira.
Apesar do realizador conduzir praticamente sozinho todo o processo com uma criatividade gritada, o resultado é de um distanciamento claustrofóbico. "Os Comparsas" é um mergulho gelado no mar de sangue, um idílico passeio no inferno.
Na última parte do filme, desenrola-se um tour de force entre a selvageria do crime e a plácida indiferença da casa – esta, um dos principais personagens da narrativa. Aqui os inserts tão comuns no cinema de Barradas atingem um paroxismo quase eisensteiniano: cinema como resultado criativo do choque de imagens.
Marcio Barradas, neste "Os Comparsas", mais uma vez nos relembra o óbvio: na pequena ou grande produção, o cinema só existe quando dá forma a uma visão forte. Fugindo da tecnocracia e do acanhamento, Barradas ousa interessar-se pelo cinema. Por mais absurdo que isso seja.

5. “Matinta”, de Fernando Segtowick (20 min.)
Quem é daqui do mato, tem que ter muito cuidado com o encantado, quem quer ter paz na vida, não se mete com Matinta, mesmo na morte a bicha é perigosa, se responder o chamado dela não tem reza que dê jeito, tá com fardo de virar MATINTA.





Dia 30/10 (domingo):
18h - Exibição do longa “À Margem do Xingu- Vozes Não consideradas” de Damiá Puig (90 min.) seguido de debate.

Em viagem pelo rio Xingu encontramos inúmeras pessoas, moradores de toda uma vida, que serão atingidos pela possível construção da hidrelétrica de Belo Monte. Relatos de ribeirinhos, indígenas, agricultores, habitantes da região de Altamira na Amazônia, assim como especialistas da área compõem parte deste complexo quebra-cabeça. São reflexões sobre o passado obscuro deste polêmico projeto e que elucidam o futuro incerto da região e destas pessoas às margens do Xingu.


Documentário que trata do projeto de construção da Usina Hidroeletrica de Belo Monte que causará grande impacto ambiental destruindo locais de cultura ancestral indígena e dizimando povos tradicionais provocando um grande desequilibrio ambiental de proporções incalculáveis e irreparáveis.

20h - Exibição seguida de debate dos filmes:

1. “Kronos” de Rodolfo Mendonça (2 min.)
Kronos é o Deus-Titã que, assim como o tempo, devora os seus filhos.

2. “Brega S/A”, de Gustavo Godinho e Vlad Cunha (113 min.)
Gravado entre os anos de 2006 e 2009, o documentário Brega S/A fala sobre a cena tecnobrega de Belém do Pará. Feito por artistas pobres, gravado em estúdios de fundo de quintal e com relações profundas com a pirataria e a informalidade, o tecnobrega é a trilha sonora da periferia da cidade, uma espécie de adaptação digital da música romântica dos anos 70 e 80.
No filme, vemos qual a relação entre o tecnobrega e a popularização da tecnologia a partir do final da década de 90, bem como a maneira como esse estilo musical se associou à pirataria para criar uma rede de distribuição alternativa ao modelo proposto pelas grandes gravadoras.
Entre os principais personagens estão o MC de tecnobrega Marcos Maderito, o “Garoto Alucinado”; DJ Maluquinho, uma espécie de Iggy Pop brega da periferia de Belém; e os DJs Dinho, Ellysson e Juninho, ídolos das aparelhagens, enormes sistemas de som que realizam festas itinerantes pelos bairros mais pobres da cidade.

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