Iracema, uma transa amazônica
O Brasil é o país dos dilaceramentos. A realidade geopolítica é tão ancorada em disparidades que por vezes o brasileiro se surpreende com um país alienígena, que também é seu. Em 1974, uma equipe de filmagem resolveu mergulhar no desafio de construir uma narrativa tomando esta premissa como base, cujo resultado - o filme "Iracema, uma transa amazônica" - é talvez o trabalho mais inovador sobre os limites entre documentário e ficção já feito.
Paulo César Pereio e Edna de Cássia representam o abismo entre o "Brasil Grande" propagandeado pelo regime e a precariedade do povo que sobrevive à margem da ilusão de progresso. Orlando Senna desenvolve tal roteiro não numa escrita de ferro mas, sobretudo, no suor dos personagens.
Nesta perspectiva destaca-se, entretanto, o cine-olho de Jorge Bodanzky que ao resignificar a "realidade tomada de improviso" vertoviana dá novo sentido ao método da entrevista e das relações entre a equipe de filmagem e o universo registrado/representado.
Reexibir "Iracema" em Belém é oportunidade, não só para celebrar os 35 anos desta obra-prima, como também para reavaliarmos enquanto amazônidas o dilaceramento que abandona no meio da estrada, prostituído e banguela, este Brasil alienígena que sempre foi o nosso.
Miguel Haoni (APJCC - 2009)
SERVIÇO:
Local: Loja Ná Figueiredo (Av. Gentil Bittencourt, 449)
Data: 21/12/09 (segunda-feira)
Hora: 18:30
Entrada franca.
REALIZAÇÃO: FAPESPA
PARCERIA: APJCC
APOIO: LOJAS NÁ FIGUEIREDO
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