10.12.08

Programação

Dia 17/12 - Rastros de Ódio. John Ford.1956.cor.




Toda aventura épica é também uma busca interior. O herói, ao lutar contra as agruras do destino, inevitavelmente enfrenta em seu caminho a mais terrível de todas as batalhas: aquela que empreenderá contra si mesmo. Munido deste princípio, o diretor americano John Ford reconhece, em 1956, a hora de juntar suas armas, montar em seu cavalo e duelar consigo mesmo no deserto chamado cinema. O resultado desta empreeitada é o poético Rastros de Ódio (The Searchers), o mais belo e brutal faroeste já filmado.
Ao narrar a busca desesperada de Ethan Edwards (John Wayne) e Martin Pawley (Jeffrey Hunters) através das deformações rochosas do Monument Valley, Ford emoldura, em enquadramentos perfeitos, dramas cuja humanidade singular revelam o olhar amargurado do diretor sobre as tragédias de seu tempo.
Rastros de Ódio nos mostra também o que é o cinema para John Ford. Um cinema que se perdeu na virada dos tempos e tal qual Ethan Edwards não encontra lugar entre o céu e a terra. Vagará para sempre com os ventos.
Miguel Haoni

Dia 18/12 - Kill Baby Kill. Mario Bava. 1966. cor.




Tudo é possível no cinema de Mario Bava. Medo. Delírio. Contemplação. Quando as luzes se apagam, somos magicamente transportados para o seu mundo de fantasia, beleza e claro, horror. Em “Kill Baby Kill”, não poderia ser diferente. Temos aqui todos os elementos característicos de Bava: a figura sinistra que surge de trás da janela, a donzela condenada por uma maldição, o sobrenatural desafiando o conhecimento científico, a fixação por imagens duplas, a mise-en-scéne refinada e a inegável plasticidade das imagens.
Não por acaso, Mario Bava era pintor antes de escolher a sétima arte como projeto de vida. Talvez por isso cada fotograma de seus filmes pareça uma pintura delicada. Pintadas cuidadosamente com muito sangue. E “Kill Baby Kill” é sem dúvida, a mais perturbadora de suas pinturas. Não há build-up, não há pausa, nem fuga. A narrativa é densa. A ação, ininterrupta. São 80 minutos do mais onírico pesadelo, da mais intensa experiência estética, do mais demorado suspiro.
Exibido em Belém pela primeira vez em setembro deste ano na Sessão Maldita, dentro do Ciclo “A História Secreta do Horror Italiano”, em comemoração ao aniversário do Grupo “Fellinianos”, um dos braços da Associação Paraense dos Jovens Críticos de Cinema (APJCC), “Kill Baby Kill” volta às telas de Belém especialmente para a mostra especial de aniversário da Associação. Com ele, a APJCC também reacende o debate sobre a beleza do horror, iniciado com o “Ciclo Mario Bava”, exibido em agosto no projeto “Cinema na Casa”. E contribui para o resgate da obra deste que é um dos maiores estetas que o cinema já conheceu.
Rodrigo Cruz

Dia 19/12 - Contos da Lua Vaga. Kenji Mizoguchi. 1953. p/b.




Em 1953, Kenji Mizoguchi filma um dos mais belos e cruéis contos cinematográficos de todos os tempos. "Contos da lua vaga" se passa historicamente durante uma guerra civil no século XVI. O ser humano (japonês) enfrenta o flagelo que se chama vida.
Obra-prima do cinema mundial. Mizoguchi expõe sua visão. A família, o homem e a mulher. Os contrastes, a diferença entre os sexos. A ambição, a tolice masculina. A calma, a sensatez feminina. Uma estória é contada, um novelo de lã sobre a vida e o que vem depois. O lirismo desse novelo de planos vai se desenrolando entre elipses e enquadramentos perfeitos. Um lago de fantasia inunda um solo fértil de realismo. Os sofisticados movimentos de câmera dão o tom estilístico mizoguchiano; ninguém move a câmera e capta imagens com simplicidade tão bela na história do cinema.
Expoente máximo do cinema japonês ao lado de Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi é a derradeira homenagem da APJCC a um dos cinemas mais ricos e encantadores do mundo.
Mateus Moura

20/12 - Roma de Fellini. Federico Fellini. 1972. cor





"Isso é o que eu gostaria de filmar... um espetáculo de variedades", responde o personagem Fellini a um jovem com princípios marxistas. E assim é Roma, uma cidade-filme multifacetada, "uma loba e uma virgem, uma aristocrata e uma megera, uma cidade sombria e festiva". Abordada em seus aspectos históricos, religiosos, políticos, culturais e sexuais, Roma é tanto um desfile de modas quanto uma crítica mordaz e uma sátira. Com uma espécie de expressionismo enérgico o filme nos inunda de imagens que são paisagens, tipos humanos, estratos culturais e históricos e, acima de tudo, o peculiar e inusitado tato artistico de Federico Fellini.

Murilo Coelho

21/12 - Um Dia Qualquer. Líbero Luxardo. 1965. p/b.





O cineasta Líbero Luxardo foi um homem gentil. Deu ao belenense sua vida e seu amor. Nenhum resquício das superproduções da grande Hollywood. E de nada adiantaria proporções gigantescas. Vemos em suas obras uma vitrine cristalina, simples e honesta do cotidiano de uma terra acolhedora. Em 1962, os grandes diretores Federico Fellini, Luchino Visconti, Vittorio De Sica e Mario Monicelli se reuniram para dar ao público “Bocaccio 70”, baseado em quatro contos de Giovanni Boccaccio. No mesmo período o grandioso Howard Hawks finalizava uma de suas mais belas obras, “Hatari”. Na França a “nova onda” já gritava pelas ruas. “Um Dia Qualquer” se insere nesse contexto e incita o cinema de um sonhador. O diretor escalou amadores para dar vida à obra que narra em tempo real a caminhada do personagem Carlos, pelas ruas e costumes de Belém. Foi preciso um paulista pisar em terreno paraense para que pudéssemos sentir nossa imagem impregnada na tela. Em comemoração ao aniversário de um ano da APJCC, algumas obras foram escolhidas e entre elas o primeiro longa de Líbero Luxardo, “Um Dia Qualquer”. Nada mais justo celebrar o aniversário junto com o único desbravador imagético do Pará.

Aerton Martins

2 comentários:

Ivy disse...

Parabéns pela iniciativa, esse trabalho de resgate é maravilhoso>>>>
Sucesso agora e ainda mais em 2009!!!

Miguel Haoni disse...

Valeu Ivy.
Apareça nas sessões!
Abraço.