22.12.13

Mostra Melhores de 2013 – 6 anos de APJCC


Em 2013, pela primeira vez, um filme brasileiro ocupa o topo desde que a APJCC assumiu a proposta de listar as melhores produções cinematográficas do ano. A diversidade de nacionalidades também é uma marca dos 12 filmes que dividem as 10 colocações da lista: além do brasileiro, há cinema americano, francês, português, chinês (Hong Kong), sul-coreano. À exceção do primeiro lugar, que contou com larga vantagem, a votação que levou a esta relação de filmes foi bastante acirrada, tanto que era impossível prevê-la antes de que todos os votos estivessem contabilizados. Esta votação apertada já era esperada quando da divulgação das listas individuais, em que poucas eram as unanimidades - dissonância esta que nos foi muito bem vinda. Pivô de um empate, o 10º lugar fica dividido entre três filmes: o americano "Soldado Universal 4", o sul-coreano "A visitante francesa" e o brasileiro "A Ilha". A impossibilidade de exibir os três filmes durante a Mostra, entretanto, exigiu o desempate. Falando nela, a Mostra Melhores de 2013 acontece nas 2ª e 3ª semanas de janeiro no CCBEU, sempre com duas sessões diárias e entrada franca.

Dia 09/01 (quinta-feira)


16h - Soldado Universal 4: Juízo Final, de John Hyams

Na sequência de abertura de “Soldado Universal 4: Juízo Final”, o espectador recebe um belo presente, tamanha a riqueza da composição nas cenas. Filmada inteiramente com o recurso da câmera subjetiva, é difícil não se entregar ao primor que ela despeja. Joguem fora a violência estilizada que pulula hoje nos filmes de ação, acrescentem frieza e uma direção redonda, de um maluco chamado John Hyams, que soube injetar  ânimo  e estofo cinematográfico  em um filme que é a sequência de uma franquia capenga iniciada pelo astro Van Damme no início dos anos 90. “Soldado Universal: Juízo Final” é brutal, denso e transpira cinema.

Aerton Martins



18h30 - Django Livre, de Quentin Tarantino

Esqueçam a pataquada à época do lançamento de “Django Livre” nos cinemas, quando críticos incautos o compararam ao filme de Sergio Corbucci. Do filme do diretor italiano apenas a força do nome do personagem baila no ar. Tarantino é acusado de ser  um dos grandes gatunos da  da sétima-arte.  E, na vasta história de todas as artes, quem não foi? O cineasta foi um rato de locadora que não precisou da academia a fim de aprender que a defesa de um conteúdo nas telas deve prioritariamente empunhar o cinema, e poucos o operam com tamanho ardor. “Django Livre” é tão ingênuo, frágil, quanto selvagem. O cinema precisa cuspir provocação e “Django Livre” purula sua fração, doa a quem doer.

Aerton Martins

Dia 10/01 (sexta-feira)



16h - Blind Detective, de Johnnie To

Tal qual toda tradição de cinema popular, o cinema de Hong Kong se faz em gêneros. “Blind Detective” é não apenas um, mas todos os gêneros consagrados pelo território hoje reincorporado à China. Johnnie To faz, em sua montanha russa de emoções, comédia, romance, policial, suspense, melodrama. É importante não perder o verbo de vista: “Blind Detective” não tem todos esses gêneros; ele é todos eles. E, sendo assim, acho que dá para dizer: “Blind Detective” é o cinema de Hong Kong.

Juliana Maués



18h30 - Drug War, de Johnnie To

Bresson está vivo. Um condenado à morte não escapou.

Mateus Moura


Dia 15/01 (quarta-feira)


16h – Passion, de Brian de Palma

“Passion”, de Brian de Palma, é um filme sobre o olhar: o olhar que olha, o olhar que é olhado e o olhar que olha enquanto é olhado. Ele afirma que até as partes do corpo livres de visão ganham olhos, vigiam. É por ter essa noção do poder do olhar que de Palma é o único cineasta vivo com o direito de usar o split-screen. Essa técnica impõe uma fratura na natureza, o olhar separa-se, quebra o espaço-tempo, move-se livremente no campo cinematográfico. Ele dilacera o cinema como um assassino dilacera sua vítima. Como bom aluno de Hitchcock que é, de Palma sabe que esse assassino é ele e, acima de tudo, nós.

Cauby Monteiro


18h30 - Antes da meia-noite, de Richard Linklater

Amanhecer: fé no frescor; afeto pelo que está por vir.
Pôr do sol: espanto diante do sol que ainda brilha; maturidade que ainda sonha.
Meia-noite: transformação no breu; salto cego na fé incerta de que voltará a amanhecer.

Felipe Cruz

Dia 16/01 – quinta-feira


16h – Tabu, de Miguel Gomes

Aparentemente, um filme sobre a relação de três mulheres em um prédio antigo de Lisboa, e que se revela um recorte poético, épico sobre Aurora, seu nascimento, juventude, maturidade e morte; um filme sobre o que nos tornamos, sobre o que é esquecido e em seguida lembrado.

Guimarães Neto


18h30 - A garota de lugar nenhum, de Jean-Claude Brisseau

Os velhos mestres, nessa virada de década, apostam na pedagogia do olhar (aprender a ver, antes de aprender a ler) para fazer com que a juventude (a humanidade, meus caros) reaprenda a “ver”. Se, como afirma Bressane, o obsceno é a nova sensibilidade, esses senhores aceitaram a missão de educar-nos, para melhor compreendermos que o tempo é o da História. Brisseau filma aos 69 como se tivesse 19, em seu apartamento, com uma equipe minúscula, com uma câmera semi-profissional e fazendo travellings com carrinhos de bebê. É brincando que se ensina e é essa noção meliesiana de fazer cinema - com amor, com a simples vontade de fazer - a grande lição de Jean-Claude Brisseau. De mostrar que para viajar ao espaço precisa-se apenas de um carrinho de bebê, estrelas pintadas em uma tela e a busca, cada vez mais esquecida, daquilo que é transcendental - ou seja: eterno e belo.

Cauby Monteiro


Dia 17/01 (sexta-feira)


15h30 (excepcionalmente) - O Mestre, de Paul Thomas Anderson

Um filme sobre jornadas estilhaçadas com os pés sobre o manto da dor e farsa. A força de “O Mestre” se encontra no espelho incerto que une os dois personagens principais. Ambos correm para alcançar algo que conforte suas almas. Em meio à loucura e à pregação, o cineasta Paul Thomas Anderson nos concedeu o maior embate do ano nas telas. Dodd e Freddie dançam em cacos na narrativa ousada de um dos grandes cineastas do século.

Aerton Martins


18h30 –  O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho

Um filme de horror disfarçado de drama familiar. Aferir “O Som ao Redor”, do cineasta Kleber Mendonça, como um filme do "horror" não seria exagero, levando em consideração que seu realizador fez o curta-metragem “Vinil Verde” (2004)  e que a palavra vem do sentimento de “repulsa”, o real contém o “horror”. O que salta das telas é a permanência do horror em nosso doce e, por vezes, aborrecido cotidiano. "O Som ao Redor" é o barulho silencioso que o cinema nacional precisava.

Aerton Martins

Serviço:
Mostra Melhores de 2013 - 6 anos de APJCC
Dias 09 e 10 (quinta e sexta) e de 15 a 17 (quarta a sexta) de janeiro
Sessões às 16h e 19h (dia 17, excepcionalmente, às 15h30 e 19h)
Local: Cine-teatro do CCBEU - Tv. Pe. Eutíquio, 1309
Entrada franca

Realização: APJCC e CCBEU

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