23.2.09

O Sonho de Cassandra encerra ciclo Desconstruindo Woody Allen no EGPa

Cine EGPa apresenta:



O sonho de Cassandra (Cassandra's Dreams). Woody Allen. 2008. cor.




O sonho de Cassandra – diferente de Scoop, seu filme anterior – respira dentro da obra de Woody Allen. O bom e velho amigo tem algo a dizer. Na sua filmografia se segue, há tempos, uma repetição de si (também chamado de estilo). “Crimes e pecados” se reflete mais uma vez, depois de Match Point, neste recente filme; mas não é só isso. O irônico Woody já tem a tranqüilidade e a maturidade pra poder brincar sério. Desde a trilha de Glass e o sotaque britânico puxadíssimo, ele ambienta o filme na Inglaterra, longe do Brooklin, longe dos velhos temas pessoais, Allen pode brincar com a vida, pode falar sério, brincando. Brincando de ser inglês, de novo; desta vez acertando.
Existe a tendência de rotular fases na carreira de Woody Allen, sendo a atual classificada como sua fase “fora de Nova York”, e ponto. Essa idéia ganha força com o tema que é comum aos seus três últimos filmes: o crime. Os textos pré-fabricados de grande parte da crítica sobre Allen - que se repetem mais do que o próprio diretor se repetiu nos últimos anos -, não se dão ao trabalho de observar as nuances de algumas de suas obras, pois o olhar já está treinado para identificar as características “clássicas” de um “legítimo” Woody Allen - a marca, e não o autor. E qualquer um que ASSISTA Sonhos de Cassandra percebe que o que temos é um filme de sutilezas, e de uma grandeza madura-reflexiva-irônica.
Uma trama é estabelecida dentro do mundo que conhecemos, nada de novo, os bons e velhos temas shakespearianos: poder, ganância, família, crime. Um Woody realista, ao extremo. Allen nos mostra – através da mise-en-scène, apresentação dos personagens, montagem - que a nossa tragédia é só mais uma, de milhões que acontecem todos os dias.

Mateus Moura (retirado do texto “Um Shakespeare escrito por um leitor de Tolstoi que discute Sófocles, diretamente do Brooklin”, co-escrito com Felipe Cruz)



SERVIÇO:


26/02/08 (quinta-feira) às 18:30


Escola de Governo - Av. Almirante Barroso (do lado do Pedroso)


Entrada franca!


11.2.09

Luta e cineclubismo na terra da realidade

Artigo feito para a 2ª edição da revista eletrônica GOTAZ. Encomendado sob o tema: luta. A APJCC se sente honrada em fazer parte desse grupo talentoso e lutador.


 


segue link da revista:


http://issuu.com/gotaz/docs/gotaz02?mode=embed&documentId=090204201727-8801159dff0748b7bef5626269412c72&layout=grey


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Exterior. Dia. Bar. Conversa pelo telefone.
-Luta.
-Luta? Mas luta de que?
-Ah... qualquer luta, desde a física até a luta pelas idéias. Luta...
-Ah... beleza. Saquei. Dia 31 a gente entrega então... Gotaz né?
-É. Gotaz.


Luta e cineclubismo na terra da realidade




É inevitável. Toda luta – para o lutador – é inevitável. Está no destino como a locomotiva nos trilhos. É irrefreável. Pode ser ridícula, solitária, ilógica, inútil... só existe, não poderia ser de outro jeito. Falamos aqui de algo irracional, de uma paixão lancinante, de um frêmito físico. O lutador é um apaixonado! Um teimoso! O lutador luta porque acredita que é necessário. Não falamos aqui de possibilidade, mas de necessidade: Fazer ou morrer! Não fazer o que dá para ser feito, mas fazer o que tem que ser feito. E sujar as mãos se for preciso.
A nossa luta é pelo cinema.
Nossa postura política consiste na divulgação gratuita de uma cultura cinematográfica mundial e na formação de um homem crítico – promovendo não só uma reflexão estética, mas moral, existencial. Acreditamos no Filme como uma fonte inesgotável de vida, de conhecimento, com tudo de infinito que ele pode oferecer. A questão estética se configura para nós como o mais sério de todos os assuntos, e o respeito a ela é fundamental.
Apesar da aparente nobreza da causa, muitos são os que a ela se opõem, e como todo luta requer oponentes, achamos justo, neste momento, apontá-los.
O cinema, muitas vezes, é visto como algo menos sério. Ou ele é utilizado como ferramenta pedagógica (para chegar nos assuntos considerados mais sérios: política, história, psicanálise, etc...) ou é visto como “mero” entretenimento. Uma das nossas maiores defesas é a questão do tratamento da obra de arte enquanto tal, o respeito à sua autonomia, pelo exibidor e pelo espectador. Utilizar o cinema como ilustrador de conceitos científicos ou exemplificador de casos clínicos é um problema sério na Academia. Somos contra a redução. O público que vai a uma exibição pública confunde os conceitos de “público” e “privado”. Consideram que podem fazer o que quiserem, afinal: “é de todos”. Erram. A educação foi mal dada. É justamente o contrário. Se faz o que se bem entende no privado, o privado é “meu”, “seu” ou “nosso”. O público não é “nosso”, nem “meu”, nem “seu”. O cinema, talvez por ser uma arte que nasceu como parte do espetáculo de curiosidades circenses, encoraja a baderna. O público, muitas vezes desrespeita uma obra de arte e impossibilita a fruição estética de quem foi à exibição, justamente, assistir um filme. Sonhamos que, um dia, falar no celular durante uma sessão ou ficar avacalhando um filme seja tão criminoso quanto riscar um quadro numa galeria de arte ou berrar durante uma ópera. Constatamos uma diferença entre o público e o espectador, e defendemos este último. Somos contra a demagogia.
Muitas pessoas utilizam o cinema como ferramenta para auto-promoção no seu círculo social e dizem que amam a sétima arte para ganharem ares de românticos e conquistarem seus companheiros sexuais. Muitos organizam cineclubes e fazem a política da boa vizinhança acatando tudo que o público manda ou sugere. Não há confrontamento, não existe reflexão com o que é exibido, pouco importa a qualidade dos filmes; a máxima é agradar. Ser amados, só querem ser amados. Nós entendemos; só pisam no nosso calo quando utilizam o cinema como remédio para suas frustrações.
Há, também, os que lucram - com uma boa dose de pedantismo e mesquinhez. Durante nosso percurso de amadurecimento crítico, muitas (falsas) lendas – que cantam seus 20 anos de crítica em nossa cidade – foram derrubadas. O cineclubismo, chegamos à conclusão, é um sacerdócio – e tem que querer ser um sacerdote, para não desvirtuar o Deus (Cinema) em ego. Quanto às questões políticas de exibição e posturas alheias, quando se trata de cinema, estamos prontos a analisar e opinar, a aplaudir e a vaiar. Somos contra uma posição de letargia intelectual ou da lei do silêncio no jogo político. Para nós, ninguém é inatacável. Somos a favor, sempre, de uma postura crítica. É o que chamamos de “liberdade pra falar disponibilidade pra ouvir”.
Outro fato sério: Não há amor na burocracia. Os milhares de papéis necessários para fazer um projeto sair do papel não comportam (e nem suportam) a paixão daqueles para quem aquele projeto é vital, para quem acredita que é preciso fazer, que é preciso se mexer, que é preciso apanhar. E a surra que levamos é pesada e implacável na sua indiferença pela arte. Apanhamos quando exigem que nos retiremos da sala de exibição interrompendo os diálogos “sem importância” que acontecem depois dos filmes. Tiram sangue de nós quando não nos garantem as contra-partidas mais elementares para que as sessões aconteçam (uma caixa de som, um datashow, um dvd). Quebram nossas pernas quando precisamos implorar que nos deixem trabalhar, que nos deixem realizar por completo o nosso amor pelo cinema. E é quando amarram uma corda no nosso pé e nos puxam insistentemente para a realidade do que “pode ser feito” e não do que “tem que ser feito” que a face mais vergonhosa, cruel e desprezível das instituições, que são formadas antes de tudo por pessoas, aparece.
Considerando a dimensão dos oponentes apontados, uma questão se impõe para nós: Vale a pena?
A resposta nos é dada quando, sob a luz fantasmagórica da sala de exibição, os velhos lutadores que viveram e morreram em função de sua arte e ofício, sentam ao nosso lado e sussurram com a câmera uma verdade inevitável: os últimos 113 anos foram testemunhas de uma História fabulosa na qual o Cinema se impôs, através das mãos destes senhores, como o mais brilhante produto de nosso tempo. Tratamos aqui dos velhos mestres, dos verdadeiros mestres, dos grandes autores de grandes obras. É por eles, e ao lado deles, que lutamos. E a cada grande filme que desfila diante de nossos olhos ganhamos para continuar lutando. Porque não temos opção, não temos. Ficar nos nossos quartos pra sempre, vendo filmes e discutindo entre amigos não é uma opção para nós. Tanta paixão não aceita ficar retida, tem que transbordar. E se continuamos transbordando, mesmo quando fazem de ridículo o bom palhaço, quando tomam por mau palhaço o grande artista, é porque por mais que sejamos espancados, por mais que percamos muitas lutas, nunca ninguém nos derrubou. Porque a resistência maior é continuar. E já nos é impossível deixar de continuar.


Epílogo:
O final romântico atualmente não agrada boa parte do público. O que podemos fazer? Mais um texto sem esperança? Os experientes dirão que os jovens inocentes não sabem do que falam, que é só uma questão de tempo. A verdade é que não
sabemos o que será de nossas vontades, de nossas lutas. Não acreditamos nas nossas verdades. Mentimos. O lutador é um mentiroso, é verdade! Um mentiroso porque diz as verdades que nem ele acredita. O próprio cinema mente – para dizer a verdade – 24 vezes por segundo.
O tesão é a verdade do lutador! A vontade irracional de fazer o que deve. Acima das culpas, das coações, da família, dos inimigos, do gongo. A vida volta à vida. A vida pela vida. O cinema pelo cinema. Este – o texto pelo texto. O lutador é – luta. É inevitável.

Felipe Cruz, Mateus Moura e Miguel Haoni – membros da APJCC

9.2.09

Segue Ciclo Desconstruindo Woody Allen no EGPa

Cine EGPa apresenta:



Maridos e esposas. Woody Allen. 92. cor


Poucas coisas na vida são tão potencialmente dramáticas quanto o fim de um relacionamento. O orgulho ferido, a saudade, as diversas idas e vindas, tudo adquire contornos tragi-cômicos e até o mais sólido dos indivíduos desmancha-se ao encarar este tipo de situação.
Woody Allen, que sempre se interessou pelo assunto, desenvolveu grande parte de sua obra lançando um olhar arguto aos limites das relações amorosas. No ano de 1992, entretanto, o diretor demonstrou um nível incomum de compreensão e sensibilidade ao filmar Maridos e Esposas. A abordagem da trama não só revela um dramaturgo amadurecido como um esteta empenhado que, através do falso-documentário e da câmera na mão, desnuda os constrangedores desdobramentos da vida de casado.
O Cine EGPA tem o orgulho de levar ao público esta inquietante e quase desconhecida obra sobre a crueldade e o lirismo daquilo que chamamos amor.

Miguel Haoni
(APJCC, 2009)

SERVIÇO:
Dia 12/02 (quinta)
às 18:30
No auditório da Escola de Governo do Pará
(Av. Almirante Barroso, 4314, Souza, ao lado do Colégio Pedroso)
ENTRADA FRANCA

8.2.09

Cineclube Aliança Francesa volta com policial

Cineclube Aliança Francesa apresenta:



MR 73. Olivier Marchal. 2008. cor.

Desde a terrivél morte de seus pais, Justine tem vivido a solidão daqueles que se tornaram virtualmente invisíveis. Mas a saída rápida do assassino da cadeia levanta medo e dor. Ela nunca teve sucesso na procura por ajuda e compaixão em Louis Schneider, um policial do Esquadrão do crime em Marseille, onde em particular assassinatos selvagens permanecem sem explicação, criando descrédito na policia. Scheneider, um individualista incorruptível, decide ficar contra a opnião de seus superiores e começa uma investigação que irá levá-lo às portas do inferno. Ajudar a Justine o levará, de alguma forma à redenção?



Tão importante quanto perceber um cinema imprescindível dos grandes mestres é estar atualizado com seus possíveis herdeiros. Cineastas que propõem um cinema novo ou amadurecem velhas fórmulas são potencialmente candidatos a um lugar no Olimpo do Cinema.
A França, desde a tradução de Edgar Allan Poe por Charles Baudelaire, estabeleceu um vínculo de espírito e compreensão com os EUA no campo das artes que nunca mais foi quebrado. No cinema e no século XX, a ligação foi ainda mais evidente: de Hitchcock à Chabrol, de Hawks à Truffaut, de Godard à Tarantino, etc...
Sabemos que a literatura e o cinema policial americano encantou platéias e influenciou cineastas no mundo todo, que estabeleceram cinemas nacionais fortes baseados no gênero. Um exemplo da universalidade do gênero é o recente e muito comentado “Tropa de Elite” de José Padilha.
Olivier Marchal, simpatizante do gênero, se tornou o cineasta de policiais comerciais franceses que mais interessa. MR 73, seu terceiro filme, foi considerado por críticos renomados como Carlos Reichembach como um dos melhores de 2008 – o que não é pouco. O surpreendente filme de Olivier Marchal nos apresenta um diretor de grandes produções que imprime sua marca e apresenta um amadurecimento a cada novo filme. Imperdível!

Mateus Moura.


SERVIÇO:
11/02/08 (quarta-feira)
18:30
Armazém Santo Antônio (Av. Quintino Bocaiúva, 1969, entre Nazaré e Braz de Aguiar)
Entrada franca!
Legendas em português!